Descrição de chapéu Maratona Emmy

Emmy do algoritmo empolga ao oferecer tudo, mas faltou 'Boneca Russa'

De 'Ruptura' a 'Ted Lasso', pouca coisa ficou de fora da premiação que evita ousar

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Houve poucas injustiças nas indicações para as categorias principais do Emmy deste ano. Quase tudo que brilhou foi lembrado na seleção, seja novidade, seja série longeva. Não é alívio, contudo, que, com tantas plataformas competindo, estejamos todos vendo as mesmas coisas. O algoritmo nos fisgou.

Outros dois fatos chamam a atenção na lista de 2022. O primeiro é que, depois de anos de boas e inovadoras comédias, a categoria perdeu um tanto da graça, com produções louváveis mas já pouco surpreendentes. Foi no drama que os roteiristas se superaram, o que deve dizer algo sobre estes tempos.

Cartaz de 'Succession' em alta resolução
Os atores Jeremy Strong e Brian Cox em cartaz de 'Succession', que lidera indicações ao Emmy deste ano - Repdrodução

De forma similar, todas as minisséries indicadas, exceto uma, tratam de casos reais tenebrosos envolvendo crimes e desgraças variadas (com os vigaristas em alta). Fizeram falta aqui —possivelmente as únicas— a perturbadora "O Psiquiatra ao Lado", com Paul Rudd e Will Ferrell, e a deliciosa "Boneca Russa", com Natasha Lyonne (cadê ela entre as atrizes cômicas?).

A exceção entre as histórias reais é "White Lotus", produção da HBO que aposta pesadamente no humor cáustico e superaria todas as concorrentes cômicas caso competisse na outra raia.

A minissérie sobre um grupo de turistas endinheirados e funcionários de um resort no Havaí, quase um "Downton Abbey" com psicotrópicos, aliás, equiparou as 20 indicações das unanimidades "Ted Lasso" e chegou perto das 25 de "Succession", que já reinaram em anos anteriores.

A segunda curiosidade é que há mais atores e atrizes concorrendo em múltiplas categorias. Julia Garner, Zendaya, Bill Hader, Steve Martin, Rhea Seehorn, Sydney Sweeney, Harriet Walter —além de Jason Bateman e Quinta Brunson, que se desdobram na frente e atrás das câmeras, respectivamente, em "Ozark" e "Abbott Elementary".

Uma interpretação possível é que não apenas os espectadores estamos enredados nos algoritmos. Os produtores também estão.

Se essa fórmula de prever gostos é inescapável, ao menos ela parece estar mais generosa. Não dá para dizer que este seja o ano das séries de anti-heróis, ou dos novelões, ou das sitcoms familiares, ou do nonsense, ou do (true) crime, ou das produções voltadas para adolescentes, ou das reverências ao passado.

Está tudo lá, afinal, das ultrapops "Stranger Things" e "Round 6" ao drama em câmera lenta de "Better Call Saul", o terror canibal de "Yellowjackets" e o suspense intrincado de "Ruptura", passando pelas perenes "Segura a Onda" e "Killing Eve".

Depois de alguns anos de excepcionais atuações femininas, restou na categoria ator dramático a disputa mais difícil.

O duelo de mau-caratismo entre os personagens de Brian Cox e Jeremy Strong em "Succession", a jornada pelo precipício do afável Bob Odenkirk em "Better Call Saul" e o misto de ingenuidade e instinto de sobrevivência de Lee Jung-jae em "Round 6", além de Bateman em sua melhor temporada como Marty Byrde, serão lembrados por décadas.

A atuação preferida desta colunista, porém, é a de Adam Scott, ator que voa sob o radar e está magistral como o homem que aceita dividir cirurgicamente sua vida pessoal e a profissional em "Ruptura". Mesmo ladeado por titãs como John Turturro, Patricia Arquette e Christopher Walken, dá uma lição de atuação contida como o agoniado Mark.

"Ruptura", aliás, é a melhor surpresa do ano —talvez a única—, num 2022 no qual tivemos outras coisas brilhantes, como "Succession", "Euphoria" e hits popíssimos.

Prêmios da indústria são um lastro frágil, e o Emmy raramente se aventura por escolhas ousadas. Raramente, também, capta tão bem a produção do ano como fez desta vez. Ou seria o algoritmo?

Aqui, na torcida por "Ruptura", "White Lotus" e, sem "Boneca Russa", "Hacks" (curiosa por "Abbott Elementary", espécie de "The Office" versão escola inédita no Brasil).

Outros favoritos são Zendaya ("Euphoria"), Scott e Turturro ("Ruptura"), Issa Rae ("Insecure"), Jason Sudeikis ("Ted Lasso"), Garner (por "Inventando Anna" e por "Ozark"), Himesh Patel ("Estação Onze"), Alex Borstein ("Maravilhosa Sra. Maisel"), Murray Bartlett e Jennifer Coolidge ("White Lotus").

E aí?

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