Polícia prende 640 pessoas em aniversário de protestos no Chile

Saques e incêndios a igrejas foram registrados a uma semana de referendo sobre mudança na Constituição

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Santiago (Chile) | AFP
Segundo o governo, foi o maior evento do ano, com cerca de 30 mil pessoas reunidas na Praça Itália, que se tornou o epicentro dos atos que começaram em 18 de outubro de 2019.
Manifestantes colocam fogo na igreja de San Francisco de Borja, durante os protestos de domingo (18), em Santiago - Martin Bernetti - 18.out.2020/AFP

Apesar de o clima ter sido pacífico ao longo do dia, houve episódios de violência no fim da tarde e à noite. Duas igrejas foram incendiadas por grupos encapuzados, entre elas a Igreja de Assunção, que fica a 350 metros da Praça Itália.

Em diversos bairros de Santiago e em outras cidades do país, ocorreram saques e tentativas de roubo, além de ataques a quartéis e construção de barricadas para obstrução de ruas.

Segundo o subsecretário do Interior, Juan Galli, foram registrados 107 incidentes graves em todo o país. Pelo menos 118 policiais ficaram feridos —não foram divulgadas informações sobre manifestantes machucados.

O presidente Sebastián Piñera condenou os episódios de violência e disse que apresentará acusações criminais para "perseguir com seriedade" os responsáveis pelos ataques, de acordo com informações do jornal La Tercera.

"Estas ações criminosas devem ser condenadas por todos aqueles que acreditam na democracia e querem viver em paz, e devemos condenar não só aqueles que executam diretamente os atos de violência criminal, mas também aqueles que, de uma forma ou de outra, as promovem ou que as justificam", disse.

As manifestações ocorreram a uma semana de um plebiscito histórico, previsto para o próximo domingo (25), que decidirá se a Constituição herdada da época da ditadura será mantida ou não no país. Piñera também afirmou que não permitirá que "grupos minoritários" atrapalhem o referendo.

A Carta atual, vigente desde 1980, é apontada como a origem das desigualdades por especialistas e manifestantes. Desde que foi escrita e promulgada, a Constituição teve mais de 200 modificações em 40 artigos, mas críticos dizem que a ela falta legitimidade.

Além disso, o documento não determina que o Estado deva oferecer saúde e educação como direitos.

Interrompidos pela pandemia, os protestos no Chile eclodiram em outubro do ano passado devido ao aumento de preço nas tarifas de transporte em Santiago. Aos poucos, os atos ganharam volume e incorporaram pautas mais amplas, como a reforma do sistema de aposentadorias e as reivindicações por uma nova Constituição.

Pelo menos 19 pessoas morreram e centenas ficaram feridas durante os atos, marcados por confrontos entre manifestantes e policiais. Dezenas de ônibus, estações de metrô e edifícios foram incendiados, num prejuízo estimado em bilhões de dólares.

Desde então, o país está mergulhado em um clima de instabilidade política e social. A decisão de realizar o plebiscito, adiado por conta da crise sanitária, foi tomada a contragosto por Piñera na tentativa de reduzir a tensão e as pressões das manifestações. ​

Também nesta segunda (19), o presidente pediu que os chilenos votem em massa no domingo.

"Queremos chamar, com grande entusiasmo, cada um dos nossos compatriotas a participar e votar no plebiscito do próximo domingo porque todas as posições e todas as opiniões contam e são importantes em uma democracia", disse.

As pesquisas indicam ampla vitória da aprovação da mudança constitucional.


CRONOLOGIA DOS PROTESTOS

18.out.19
Aumento das passagens do metrô de Santiago motiva o primeiro dia de protestos, que paralisa a cidade

19.out.19
Governo decreta estado de emergência —Exército sai às ruas pela primeira vez desde a ditadura de Pinochet— e recua do aumento da passagem. Nos dias seguintes, várias pautas seriam incorporadas, como a reforma do sistema de pensões, de educação e de saúde.

22.out.19
Após a morte de 15 manifestantes, Piñera pede desculpas a chilenos

23.out.19
Menino de quatro anos morre após motorista atropelar grupo e manifestantes

25.out.19
Segundo o governo, cerca de 1,2 milhão de pessoas (equivalente a um quinto da população) saem às ruas em Santiago no dia do maior ato

28.out.19
Presidente troca oito ministros, inclusive seu primo Andrés Chadwick, chefe da pasta do Interior e responsável pela atuação das forças de segurança

1º.nov.19
Desde o início dos atos, cerca de 222 manifestantes tiveram ferimentos nos olhos causados pela repressão das forças de segurança; pelo menos 26 perderam a visão em um dos olhos

7.nov.19
Piñera anuncia pacote de medidas para endurecer as punições a manifestantes que cometerem atos de vandalismo durante manifestações

22.nov.19
Piñera admite descumprimento de protocolos de uso da força durante repressão a manifestantes

27.nov.19
Por unanimidade, Câmara aprova redução de 50% dos salários e outras remunerações dos parlamentares

28.nov.19
Governo de Piñera se reúne pela primeira vez com organizações sociais desde o início dos protestos

13.dez.19
Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos denuncia violência sexual contra manifestantes; órgão contabiliza 28.210 mil detenções desde o início dos protestos

27.dez.19
Piñera convoca plebiscito constitucional para 26.abr, no qual os chilenos decidirão se querem alterar a Constituição, herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990)

16.jan.20
Governo anuncia intenção de cobrar uma contribuição previdenciária das empresas para viabilizar aumento do valor das aposentadorias e pensões.

1º.fev.20
Número de mortos em 2020 sobe para quatro

2.mar.20
Novos protestos deixam 283 presos e 76 policiais feridos

2.out.20
Jovem é jogado de ponte em repressão a protesto

18.out.20
Protestos com incêndios de igrejas marcam um ano de manifestações

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