De Grão em Grão

Como cuidar do seu dinheiro, poupar e planejar o futuro

De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato

Saiba o que fazem e como surgiram os fundos multimercados

Fundos multimercados operam em todos os mercados buscando superar o CDI

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Os fundos multimercados brasileiros são empresas que têm atuação similar à dos conhecidos Hedge Funds (fundos de proteção) internacionais, mas com um perfil mais regulado e conservador. Este nome, Hedge Funds foi cunhado pelo jornalista americano Carol J. Loomis em 1966. A forma flexível de atuação dos fundos multimercados desperta a curiosidade de investidores sobre o que eles fazem.

Fundos multimercados operam em todos os mercados buscando superar o CDI. Spencer Platt/Getty Images/AFP (Photo by SPENCER PLATT / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP) - Getty Images via AFP

Devido à diversidade de estratégias e inovações que a indústria financeira utiliza na gestão dos hedge funds, fica quase impossível estabelecer um padrão que possa definir de forma simples esse veículo de investimento.

Uma boa definição de hedge funds é dada pelos autores Ineichen e Silberstein. Eles os definem como "uma empresa de investimentos em que os gestores procuram retornos através da exploração de oportunidades de investimento, protegendo o principal de potenciais perdas financeiras." Daí vem a denominação de fundo de proteção ou hedge funds.

No caso brasileiro, os fundos multimercados, não possuem toda a liberdade de seus pares internacionais, pois são mais regulados e fiscalizados, no caso pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Portanto, apesar de terem um espectro amplo de estratégias possíveis, podem ser definidos como:

Condomínios de investidores que, por meio de operações nas diversas classes de ativos (renda fixa, renda variável, moedas, commodities, etc.) do mercado local e internacional, realizam estratégias de investimentos compradas ou vendidas, com ou sem alavancagem, objetivando, na sua maioria, superar o benchmark, que, usualmente, é o CDI (Certificado de Depósito Interbancário).

Como iniciaram os hedge funds no mundo e no Brasil?

Quem primeiro usou o nome hedge fund foi Carol J. Loomis no artigo intitulado "The Jones Nobody Keeps Up With", publicado na revista Fortune em abril de 1966. Loomis descrevia o desempenho e estratégia do fundo de Alfred Winslow Jones como um dos melhores em Wall Street.

Loomis descreve a estratégia de Jones como capaz de ganhar dinheiro tanto na alta quanto na baixa das ações. Essa estratégia seria atingida devido à forma de gestão do fundo, que estaria hedged (protegido em inglês), ou seja, para parte de seu portfólio comprado em ações, que poderia até ter sido alavancado, ele vendia ações a descoberto para se proteger de quedas das ações. Portanto, o nome hedge fund nasceu do termo hedged, pois era atribuído a um fundo que adotava tal estratégia de proteção.

A estratégia que Jones utilizava era semelhante ao que hoje a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais) classifica como Long and Short Direcional.

Jones que obteve seu PhD em sociologia pela Universidade de Columbia, trabalhava como escritor para a revista Fortune.

Foi seu interesse pela análise técnica que o incentivou a escrever o livro "Fashions in Forecasting" sobre previsão no mercado acionário.

Em seguida, ele se juntou a quatro amigos e criou em 1949 seu primeiro fundo. Desde então, a gestão dos fundos foi passada pelas gerações da família Jones, e a operação iniciada em 1949 com US$100 mil foi ampliada e diversificada em outros investimentos.

Apesar da maioria dos autores atribuírem a Jones o pioneirismo nessa indústria, Lhabitant (2007) e Dennistoun (2004) identificam Karl Karsten, autor do livro "Scientific Forecasting" de 1931, como o primeiro gestor de hedge funds. Karsten junto com outros amigos teriam criado um fundo ao final de 1930, ou seja, quase 20 anos antes de Jones.

A estratégia de Karsten era semelhante à posteriormente seguida por Jones, ou seja, ele comprava ações de setores da economia que ele acreditava como promissores e vendia ações de setores com perspectivas negativas. Falando parece até simples.

Entretanto, segundo Lhabitant, Karsten não deu prosseguimento à gestão de seu fundo, mas o utilizou apenas como teste empírico de seu modelo de atuação no mercado acionário para publicar em seu livro.

No Brasil, é possível considerar como início da indústria de fundos multimercados a criação dos, hoje extintos, fundos de commodities. Eles foram criados no início da década de 1990.

Mais precisamente, em 24/06/1992 o Banco Central, por meio da Resolução 1.912, regulamentou a constituição dos fundos de commodity. A criação destes fundos foi incentivada com o objetivo de estimular o mercado futuro de mercadorias.

A grande vantagem destes fundos era o benefício fiscal que lhes foi dado. Por serem taxados à alíquota equivalente à dos fundos de renda variável, eles possuíam uma vantagem em relação aos fundos de renda fixa, que eram taxados a uma alíquota de imposto superior.

Apesar de atuarem nos mercados futuros e de opções, estes fundos de commodity, na verdade, não passavam de fundos de renda fixa, pois apenas realizavam operações nos mercados de derivativos que sintetizavam a rentabilidade da renda fixa na época e mantinham seu caixa aplicado em títulos de renda fixa.

Dessa forma, a vantagem fiscal, aliada a liquidez diária após trinta dias, proporcionou grande sucesso de captação a estes fundos, que, segundo (Júnior, 2003), atingiram cerca de 30% de participação de mercado da indústria de fundos em um ano de sua criação.

Entretanto, os fundos de commodities tiveram uma vida curta de apenas três anos. Em 29/12/1995, com a Resolução 2.183 de 21/07/1995 do Conselho Monetário Nacional, esses fundos foram extintos e criaram-se os Fundos de Investimento Financeiros (FIFs).

Na segunda metade da década de 1990 estes FIFs, atuando nos mercados de derivativos formam o embrião dos futuros fundos multimercados, e eram conhecidos como fundos de derivativos. Esses fundos nada mais eram do que os fundos de renda fixa com limitação de atuação nos mercados de derivativos conforme a Circular 2.798 do Banco Central de 23/12/1997.

Os fundos multimercados como hoje conhecemos, começaram a se configurar a partir de 2000 com a maior flexibilização da indústria de fundos por meio da Circular 2958 de 06/01/2000, quando o Banco Central autorizou aos FIFs a aplicação de até 49% do valor das carteiras em ações.

Atualmente, os fundos multimercados representam 21% dos fundos de investimentos brasileiros com R$1,6 trilhões de recursos sob gestão segundo dados da Anbima de fevereiro de 2023.

No próximo capítulo, abordaremos os critério para seleção destes fundos.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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Livro: A Jornada para sua independência Financeira

Sumário

Introdução
Entenda como você alcançará sua independência financeira
Viver de renda é o último passo da jornada para a independência financeira
Estas são as maiores dúvidas sobre a jornada para a independência

Parte 1 Construção do plano
Capítulo 1 O primeiro passo na construção do plano para a independência financeira
Capítulo 2 Como definir a taxa de retorno em seu plano para a independência?
Capítulo 3 Descubra qual patrimônio necessário para alcançar sua independência financeira
Capítulo 4 Na jornada para sua independência, não despreze a importância deste fator
Capítulo 5 Entenda as duas formas que eu apliquei para elevar minha capacidade de poupança
Capítulo 6 Se você dobra este fator, seu patrimônio pode multiplicar muito mais
Capítulo 7 Juntando os pontos para construir seu plano

Parte 2 Montando a carteira para te levar à independência financeira
Capítulo 8 Antes de realizar qualquer investimento, defina estes dois fatores
Renda Fixa
Capítulo 9 Você não deve montar uma carteira de renda se quer chegar ao patrimônio para viver de renda
Capítulo 10 Evite estes dois erros comuns a investidores de renda fixa
Capítulo 11 Na renda fixa, compensa investir em crédito privado em relação ao público?
Capítulo 12 Descubra como ganhar o prêmio da renda fixa privada, mas com baixo risco
Capítulo 13 Esta é a forma mais simples de planejar sua independência financeira com renda fixa
Capítulo 14 Com nossas taxas de juros, descubra se compensa investir em dólar
Renda Variável
Capítulo 15 Correr risco pode acelerar sua jornada para a independência financeira
Capítulo 16 Saiba o que fazem e como surgiram os fundos multimercados
Capítulo 17 Como escolher um fundo multimercado?
Capítulo 18 Fundos de Investimentos Imobiliários
Capítulo 19 Ações
Capítulo 20 Investimentos Alternativos
Fundos de investimentos e Previdência Privada

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