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Bolsonaro sairá mais forte da crise, e governadores fazem palanque, diz deputado aliado do presidente

Próximo da família Bolsonaro, deputado estadual critica Doria e Witzel e vê golpismo em impeachment

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São Paulo

Representante da família Bolsonaro na Assembleia de São Paulo, o deputado estadual Gil Diniz (PSL) ecoa o discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao ver exagero de governadores em medidas contra a pandemia de coronavírus e demonstrar preocupação com efeitos na economia.

Diniz defende isolamento apenas dos grupos de risco e diz que os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), “só querem subir no palanque”.

“O que o vírus não conseguir destruir, vão destruir por conta do desespero, do pânico e da falta de emprego”, afirma, em entrevista à Folha.

O deputado estadual Gil Diniz (PSL) condecora Eduardo Bolsonaro em sessão solene na Assembleia - Mathilde Missioneiro - 26.out.2019/Folhapress

Por telefone, em sua casa, já que a Assembleia suspendeu sessões presenciais, o deputado questiona pesquisa do Datafolha que aponta aprovação menor da gestão de Bolsonaro na crise em comparação à conduta de governadores e do Ministério da Saúde.

Diniz afirma que o presidente sairá fortalecido da crise e que “popularidade não é preocupação nesse momento”.

O deputado aponta a MP que permitia a suspensão de contratos de trabalho por quatro meses, item revogado, como um “remédio amargo” em meio a outras medidas efetivas do governo federal.

Diniz ainda afirma que panelaços são normais e saúda a independência do Congresso. Ele classifica como “golpismo escancarado” a possibilidade de impeachment.

O Datafolha mostrou que a avaliação de Bolsonaro na crise do coronavírus é pior do que a de governadores e do Ministério da Saúde. O que achou? A gente sempre colocou em xeque esses números do Datafolha. Não refletem a realidade, o que a gente está vendo no dia a dia. Mas a popularidade não é uma preocupação num momento de crise como essa. O que a gente quer é salvar vidas, salvar economia e emprego.

O que o sr. está vendo no dia a dia? A gente está vendo o governo federal tomar uma série de ações. E a gente vê que governadores, principalmente do Rio e de São Paulo, fazem fumaça, fazem firula.

Até uma semana e meia atrás, o governador [Doria] estava dizendo que não ia tomar nenhuma ação, que não ia cancelar nada, estava fazendo inaugurações, foi à Assembleia [no último dia 12] chamar os deputados para jogar bola com ele e o time de secretários. Não tinha preocupação nenhuma.

Quem monitora a rede social dele sentiu que a população estava ficando revoltada pela inércia dele, aí ele começou a mudar o discurso. Mas quem realmente está tomando medidas efetivas é o governo federal. O governo estadual está fazendo fumaça.

Quais ações efetivas? O pessoal tenta desassociar a figura do ministro [da Saúde, Luiz Henrique Mandetta] da figura do presidente, é impressionante. Quem coloca o ministro lá é o presidente e as ações são tomadas em conjunto. Os 10 milhões de testes que o ministério está enviando é uma das ações. Na economia, o BNDES colocou R$ 55 bilhões.

Teve essa questão da MP, que teve a revogação, mas quem está tomando essas medidas para tentar salvar vidas e empregos é o governo federal. E tentando não politizar essa questão. Os governadores, em vez de ajudarem, só querem fazer política, subir no palanque. A gente está numa atitude reativa de desmenti-los.

A fumaça dos governadores é para esconder o quê? Parece que estão monitorando em rede social o sentimento da população e estão querendo dar uma resposta a esse sentimento, e não tomar medidas efetivas em si.

Um exemplo: Osmar Terra, que foi ministro em dois governos [Temer e Bolsonaro], colocou: a nossa prioridade é isolar os grupos de risco, idosos e quem tem doença preexistente. Não é fazer esse... São Paulo começa uma quarentena. Quais são serviços essenciais? Vai mandar fechar, por exemplo, borracharia. Como que o caminhão cheio de comida, se furar o pneu, vai fazer? Não adianta prefeito ficar fechando entrada de cidade e governador ficar fecha isso, fecha aquilo. É triste ver que o governador de São Paulo e o do Rio estão visando um ganho eleitoral e não salvar vidas realmente.

As medidas dos governadores são exageradas? Sem dúvida. Essa campanha, de lavar as mãos, não cumprimentar, não abraçar, é ótimo. Isolar esses grupos de risco, principalmente idosos, ótimo. Mas esse isolamento social forçado... O que o vírus não conseguir destruir, vão destruir por conta do desespero, do pânico e da falta de emprego.

O Datafolha mostra que as pessoas defendem a medida de não sair de casa e que têm medo do vírus. Não contrasta com o discurso de exagero por parte dos governadores? O pânico que estão fazendo é 24 horas. Dizendo, meu Deus, morreram X. Estão fazendo de uma maneira que a população, que já teria um medo natural, tenha mais medo. A resposta populista dos governadores é justamente responder a esse pânico.

Realmente, ninguém quer pegar ou transmitir uma doença. Mas existem médicos, protocolos, o Mandetta também falou, e o Osmar Terra, que a gente tem que proteger os grupos de risco, os que têm necessidade de se isolar.

Se você quer fazer o isolamento de livre e espontânea vontade, se tem a possibilidade de trabalhar de casa, OK. Mas forçar acho temeroso. Vai quebrar o comércio, a indústria. As pessoas no isolamento vão ficar desempregadas e aí? Como você leva o pão para dentro de casa?

Bolsonaro quer minimizar o desgaste na economia, mas os próprios empresários defendem o isolamento, porque se houver muitas mortes... A Itália, que é epicentro, realmente tem muita gente infectada e muita gente morrendo. Mas tem gente falando em 1 milhão de mortes no Brasil. Não sei de onde tiraram isso, é absurdo.

O deputado estadual Gil Diniz (PSL), conhecido pelo personagem das redes sociais Carteiro Reaça
O deputado estadual Gil Diniz (PSL), conhecido pelo personagem das redes sociais Carteiro Reaça - Bruno Santos/Folhapress

Bolsonaro coloca a economia à frente da meta de salvar vidas? Não, jamais. O foco é salvar vidas. O presidente e o ministro Mandetta têm feito um bom trabalho nisso. Agora, a gente tem que pensar também no depois. Emprego e economia são uma realidade.

A MP foi bombardeada de críticas e o presidente acabou tirando a parte de suspender o salário por quatro meses. A MP foi um erro? Enquanto governadores têm discurso populista, o presidente tem colocado remédios amargos. Eu vi que não repercutiu positivamente e voltaram atrás, mas eu não entendi o porquê.
Mas é a primeira vez que a gente passa por isso, não tem uma receita de bolo. Tenho certeza que quando o presidente toma uma medida, ainda que impopular, ele tem orientação dos ministros, principalmente do ministro da Economia [Paulo Guedes], e ele visa o melhor para a população.

É o pior momento do governo até aqui? Há uma série de críticas, aliados abandonando o barco, panelaço, crise de imagem. É a pior crise [o coronavírus] que tivemos nos últimos tempos. É uma crise que vem de fora e que pega todos os governos, não só o do presidente. Já teve Amazônia pegando fogo, colocaram a culpa no presidente. Óleo na praia, botaram a culpa no presidente. Agora todos estão vendo que não é uma responsabilidade do presidente, mas é o momento.

Tenho certeza que logo vai passar. Vão encontrar um remédio para minimizar esse vírus. Daqui dois ou três meses volta ao normal e acredito que o presidente saia fortalecido pelas medidas que vem tomando. Mas não é nossa prioridade isso [a imagem], a gente quer o melhor para o povo. Eu não entendo por que eu estou dentro de casa, com 33 anos, jovem, saudável, eu quero trabalhar. Quero visitar hospital, voltar na Assembleia.

Um bom debate vai ser justamente o corte no salário dos funcionários, principalmente dos deputados, estaduais e federais, senadores e a mudança do fundão [eleitoral] para injetar dinheiro.

O panelaço preocupa a família Bolsonaro? Não falei com eles sobre isso, mas tenho certeza que não preocupa. No meu prédio teve pró e contra. Isso que é bacana, a população de livre e espontânea vontade vai lá na sua sacada e pega sua panela O PT falava que era na varanda gourmet. Agora eles incentivam. É normal. O pessoal tem que mostrar sua satisfação e insatisfação.

Como vê aliados pulando do barco, como Janaina Paschoal? A Janaina sempre se mostrou independente. É natural. O Doria disse que era BolsoDoria, depois disse que não era, mesmo vestindo a camisa. Tem muita gente que é caroneiro, pegou “carona vírus”.

O Congresso vai cooperar com o governo nessa crise? O Congresso hoje é independente, não é um puxadinho do Executivo. Tem a independência de aprovar uma MP ou não. Se não entender que é bom, derruba, isso faz parte da democracia. Aqui em São Paulo a gente não consegue derrubar nada, o governador ganha tudo, nem que seja por um voto. Quem dera um dia vamos ter Assembleia independente. Acho que vão chegar num meio termo [governo e Congresso]. Esse passo atrás [na MP] talvez já tenha sido um gesto ao Congresso para aprovar.

Eduardo Bolsonaro não atirou no pé ao criar uma crise diplomática com a China? ​A gente foi eleito para dar nossa opinião. Ele teve 1,8 milhão de votos. Se a gente não puder falar o que a gente pensa, o que nosso eleitor pensa, não é democracia. O absurdo foi o embaixador chinês respondendo a ele no tom que respondeu, é surreal. A posição dele não é a do governo. Assim como minha opinião não é a do Eduardo e nem a do presidente.

A ideia de impeachment cresce no Congresso e com os panelaços. O que o sr. acha? Se não tiver um crime de responsabilidade, não prospera. Pode reclamar, pode chiar à vontade. É golpismo escancarado mesmo. Não tem o que dizer.

No domingo da manifestação, Bolsonaro abraçou as pessoas. Isso foi apontado como crime contra a saúde. E os governadores que promoveram o Carnaval quando a Covid-19 já estava rolando?

O Carnaval foi antes da pandemia ser declarada, no dia 11. O protesto foi depois. Mas o presidente não foi pro meio da multidão, ele desceu a rampa, tirou algumas fotos, apertou a mão de alguns e foi embora. Não participou ali no meio e tudo mais.


Raio-X

Gil Diniz, 33
Deputado estreante na Assembleia de São Paulo, foi o quinto mais votado, com 214.037 votos. Foi criado na periferia da capital paulista. Entre seus empregos anteriores, foi soldado temporário da PM e carteiro, o que lhe rendeu o apelido de Carteiro Reaça. Foi assessor parlamentar do gabinete de Eduardo Bolsonaro até 2018. Começou a cursar história, mas não concluiu

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