Boulos dribla holofotes e atua nos bastidores a favor de greve contra Nunes e Tarcísio

Pré-candidato do PSOL a prefeito dispara críticas às privatizações em dia de paralisação, enquanto vira alvo de rivais à direita

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São Paulo

O pré-candidato a prefeito Guilherme Boulos (PSOL) adotou a estratégia de atuar nos bastidores para endossar a greve que atinge os transportes de São Paulo e emparedar o prefeito Ricardo Nunes (MDB), seu adversário na corrida de 2024, e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), defensor das privatizações atacadas pelo movimento.

O deputado federal se tornou mais uma vez alvo da direita na paralisação desta terça-feira (28), a terceira convocada por sindicatos neste ano contra as privatizações. Nunes e Tarcísio reiteraram o que enxergam como caráter político da mobilização, associando o psolista aos transtornos para a população. Boulos tem evitado estimular em público as greves.

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), pré-candidato à Prefeitura de São Paulo em 2024 - Marlene Bergamo - 28.ago.2023/Folhapress

A mobilização aglutina trabalhadores do Metrô, da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e da Sabesp (companhia de saneamento básico), professores da rede pública e servidores da Fundação Casa, com uma lista de queixas que inclui outras medidas do governo estadual.

Boulos evitou holofotes e não se manifestou nesta terça sobre a paralisação e as críticas do prefeito e do governador, que deverão estar do mesmo lado nas eleições de 2024. Coube a aliados fazer o embate direto com os dois. Procurado via assessoria, ele não respondeu a um pedido de entrevista à reportagem.

A estratégia definida nos bastidores da pré-campanha é responsabilizar Tarcísio pelas dificuldades que os usuários de linhas do metrô e de trens enfrentaram, ressaltando que o governador rejeitou a proposta dos sindicalistas de liberar as catracas para permitir o acesso ao transporte.

Pela manhã, a equipe de Boulos disparou em grupos de mensagens de apoiadores memes para serem compartilhados e reforçarem a ofensiva contra a política de privatizações do governador, que é aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) —de quem Nunes espera obter apoio.

Uma das ilustrações, com o rosto de Tarcísio, diz: "Isso mesmo, fala que a culpa é do sindicato e esconde que você não quis liberar o passe livre". Outra afirma que o governador "fala fino com as empresas", citando as concessionárias Enel e ViaMobilidade, mas "fala grosso com os trabalhadores".

Boulos compartilhou em suas redes nas últimas horas materiais contra a privatização da Sabesp, projeto prioritário do governador, e repercutiu falhas no sistema de transporte sob concessão para dizer que "é isso que a dupla Tarcísio e Ricardo Nunes quer fazer" com a estatal de saneamento. Nenhuma das postagens fazia alusão à paralisação.

Camila Lisboa, presidente do Sindicato dos Metroviários e quem lidera a paralisação, é filiada ao PSOL. O fato é usado pelo atual prefeito em seu discurso para associar Boulos a desordem e radicalismo, uma de suas ferramentas para prejudicar o deputado, à frente nas pesquisas de intenção de voto.

À Folha o emedebista disse que o movimento "não tem nenhuma pauta dos trabalhadores" e age sob influência do deputado —o que o psolista rebate. Nunes afirmou que "está clara, nítida" a participação de Boulos na greve, que deixa "o governador e o prefeito expostos, sofrendo desgaste enorme".

Tarcísio manteve a retórica de enfrentamento, falando em greve política, ilegal e abusiva e dizendo que os sindicatos foram capturados por partidos e tentam "colocar a população refém de uma pauta política e corporativista".

Ele prometeu não recuar nas propostas de privatização no transporte e em outras áreas. O governo tem adotado linha dura com grevistas e defendido punições.

Os embates devem crescer neste ano, uma vez que seus principais projetos na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) no curto prazo vão em direção contrária em setores bastante articulados do funcionalismo, envolvendo servidores do transporte, saneamento e educação, entre outros.

Na proposta mais polêmica, a da Sabesp, o governo tem argumentado que a privatização foi decidida nas urnas —na verdade, o caso da companhia não aparece no plano de governo do então candidato.

Outro ponto que renderá atritos com funcionários públicos é a reforma administrativa, que busca cortar cargos na máquina estadual. Além disso, a possibilidade de usar dinheiro hoje obrigatório para a educação na área da saúde, também em tramitação na Assembleia, mexerá com os sempre mobilizados professores.

Os embates devem testar a base de Tarcísio na Alesp, cuja falta de articulação resultou em dificuldades para aprovar projetos considerados simples.

Em resposta ao governador em uma rede social, a presidente nacional do PSOL e aliada de Boulos, Paula Coradi, escreveu: "A culpa da greve é sua, que não quer ouvir o que a população pensa do seu programa de privatizações". Disse ainda que ele "apostou no caos quando rejeitou as catracas livres".

Ao se posicionarem sobre a paralisação, outros nomes do xadrez eleitoral de 2024 na cidade demonstraram que Boulos está praticamente isolado na postura complacente com os protestos.

A deputada federal Tabata Amaral (PSB), que já vinha se opondo à paralisação —embora discorde, por exemplo, da atual proposta sobre a Sabesp—, disse nesta terça que a greve "não representa toda a categoria" dos trabalhadores e "só mostra que o interesse da população não está em primeiro lugar".

A parlamentar, que rivaliza com Boulos no campo da esquerda, ecoou o discurso de que a paralisação "é um desrespeito" com os cidadãos, mas também afirmou que ela "é resultado não só da falta de diálogo, mas também do descaso do poder público em garantir um transporte de qualidade".

Cotado para vice de Tabata, o apresentador da Band José Luiz Datena comentou a paralisação em seu programa Brasil Urgente nesta segunda-feira (27). Ele, que saiu do PDT —onde tinha aval para concorrer a prefeito—, foi convidado pessoalmente pela deputada para se filiar ao PSB.

Datena sinalizou discordância com os modelos de privatização em discussão pelo governo estadual e, ao entrevistar Nunes ao vivo por telefone, se estranhou com ele.

O prefeito disse que Joel Datena, filho do apresentador e seu substituto, é "mais legal" que o pai, o que levou a uma troca de provocações.

"Depois não fala que eu não dei oportunidade [de se pronunciar], por isso que eu estou te dando oportunidade", retrucou o comunicador. "Eu até gosto que você diga isso, que você não gosta de mim", completou Datena.

Kim Kataguiri, que busca viabilizar uma candidatura pela União Brasil, enfatizou nesta terça os transtornos para os usuários e disse que "sindicalistas estão fazendo novamente um greve ilegal por motivações meramente políticas".

O deputado federal e líder do MBL (Movimento Brasil Livre) saiu em defesa das privatizações de Tarcísio.

Marina Helena, pré-candidata do Novo, emitiu nota afirmando que "os sindicatos estão levando o caos" à população e a fazem de refém, servindo-se dela para "atingir seus objetivos". Ela não vinculou o movimento às eleições municipais, mas reiterou sua postura favorável às desestatizações.

Colaborou Artur Rodrigues, de São Paulo

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