Descrição de chapéu
câncer

Morte digna de Pelé serve de inspiração de respeito no fim da vida

Rei estava em cuidados paliativos no Hospital Albert Einstein e morreu ao lado da família

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Pelé se despediu nesta quinta (29) em um quarto do Hospital Albert Einstein (em São Paulo), cercado pela família. A foto da filha Kely Nascimento, com as mãos de familiares apoiadas às do Rei, simbolizam uma morte digna, respeitosa, amorosa.

Desde que foi internado pela última vez, no dia 29 de novembro, com uma infecção respiratória, Pelé vinha desafiando os prognósticos médicos.

Por várias vezes, o quadro oncológico grave e irreversível, associado à insuficiência renal e cardíaca, provocou risco de morte iminente.

Familiares de Pelé se despedem do Rei em foto postada pela filha Kely Nascimento - iamkelynascimento no instagram

Mas, para a surpresa da equipe médica e dos familiares, a situação se estabilizava dentro da gravidade.
Na quarta passada (21), já com os tumores do intestino obstruindo o trato gastrointestinal e a piora das outras funções, o Rei foi colocado em dieta zero. Sondas e nutrições venosas não têm indicação nessas situações.

No último sábado (24), véspera de Natal, a sedação foi aumentada, e o craque entrou no chamado "processo ativo de morte", quando há disfunções orgânicas irreversíveis. O fim passou a ser uma questão de horas ou de poucos dias, e concretizou na tarde desta quinta (29).

Desde novembro, quando a quimioterapia foi suspensa e Pelé entrou em cuidados paliativos, conforme revelou a Folha, as filhas postavam quase diariamente fotos e vídeos ao lado do pai. Só partes do corpo do craque, como mãos e pés, apareciam nas imagens.

O Rei também recebeu várias homenagens no Brasil e no mundo, pôde se emocionar com elas e relembrar o quanto era amado.

Ao mesmo tempo, dia após dia, o país passou a compreender que, sim, há muito o que ser feito aos pacientes graves e sem chances de cura e isso se chama cuidados paliativos. Medicamentos de última geração e outras tecnologias são fundamentais até um certo ponto.

Quando não funcionam mais —e só vão trazer sofrimento inútil—, amor, carinho, aconchego e medidas de conforto são o que importa. E isso vale para o físico, para o psicológico e para o espiritual.

Não deveria ser preciso esperar o fim da vida para ter acesso a essas medidas. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), cuidados paliativos devem ser prescritos desde o início do diagnóstico e envolver uma equipe multidisciplinar.

Porém, essa é uma realidade de poucas instituições no país. Em geral, essa oferta chega muito tarde, daí a associação dos cuidados paliativos a uma morte iminente.

Nos últimos anos, acompanhei de perto algumas mortes decorrentes de câncer de parentes e de amigos, e, infelizmente, situações de agonia e de dor não são exceção.

Ainda há doentes incuráveis morrendo intubados em UTIs, longe da família, impossibilitados das despedidas, de expressar os últimos desejos. Ou passando por sofrimentos inaceitáveis por falta de manejo adequado da dor.

A vida de Pelé foi uma inspiração em muitos sentidos. Que o seu processo de morte digna também possa servir de legado para que sejamos respeitados e bem cuidados até o fim.

LEIA MAIS SOBRE PELÉ

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.