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Pelé, o Edson

Leônidas da Silva: 'Eu fui bom, mas Pelé é melhor'

Artigo publicado em 1969 mostra como Pelé superou craques brasileiros que o precederam e foi coroado por eles

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Cicero A. Vieira

O artigo abaixo foi publicado originalmente no dia 21 de outubro de 1962 e republicado no caderno especial de mil gols de Pelé, em 20 de novembro de 1969.


Em qualquer setor das atividades humanas —nas letras, nas ciências, na música ou nos esportes— sempre foi possível fazer comparações entre figuras exponenciais, entre várias personalidades que se destacaram nitidamente em seu campo de ação.

No futebol, isso só aconteceu até o aparecimento de Pelé. Num país que sempre produziu futebolistas excepcionais, superioridade de tal natureza é algo de assombroso.

Quem se interessa por futebol há de se lembrar quanto tempo se gastou em discussões intermináveis para apontar o maior dos goleadores brasileiros antes do aparecimento de Pelé: Neco, Friedenrerich, Teleco, Leônidas, Ademir, Heleno, Valdemar de Brito, todos eles tiveram seus defensores. Cada um teve habilidades pessoais capazes de acrescentar características novas à maneira brasileira de jogar futebol.

Entre 1943 e 1949, o São Paulo de Leônidas da Silva se sagrou pentacampeão paulista, até hoje a melhor marca tricolor em títulos estaduais ao longo de uma década
Leônidas executa a bicicleta em partida do São Paulo contra o Juventus, no Pacaembu, em 1948; craque foi o maior jogador brasileiro antes de Pelé - Alberto Santini/Gazeta Esportiva

Friedenreich era o gênio da improvisação e da rapidez; Teleco foi o inventor da virada; Leônidas, o criador da bicicleta. Este e Fried eram os que disputavam o título de melhor centroavante do Brasil. Na opinião da maioria dos entendidos e apaixonados de todas as épocas, Pelé acabou com a discussão.

Valdemar de Brito, jogador de primeira linha do passado, no Brasil e na Argentina, foi o descobridor de Pelé. Viu o menino treinando em Bauru, num time de juvenis, e logo percebeu nele qualidades excepcionais. Levou-o para o Santos porque, segundo afirmaria depois, o quadro da Vila Belmiro era, na ocasião, o que oferecia melhores condições para o aproveitamento das qualidades do craque em embrião.

Esse fato viria a mudar a história de um clube e alterar totalmente o panorama do futebol paulista. Mas, por ora, o que pretendemos é relembrar as considerações de Valdemar em torno das qualidades de Pelé. Disse ele, numa entrevista para rádio ou jornal: "Tudo aquilo que eu aprendi e aprimorei nos meus longos anos de futebol, Pelé já sabia antes de começar a jogar".

Essa afirmação definitiva seria reforçada posteriormente por um depoimento de Leônidas: "Eu fui bom, mas Pelé é muito melhor".

Em linguagem pouco científica, diríamos que Pelé é o que poderia se chamar de uma personalidade de ferro, uma fortaleza psicológica, harmoniosa e equilibrada em todos os seus compartimentos. A prova mais evidente desse equilíbrio é o fato de ele não ter sido afetado pela popularidade opressiva e avassaladora de que desfruta.

Para usar termos mais futebolísticos, é quase inacreditável que esse atleta excepcional seja absolutamente infenso à famosa "máscara", tão frequente entre futebolistas jovens.

Que faz Pelé, para ser um jogador fora do comum? No campo, ele é simplesmente um super-homem. Craques consagrados como que se transformam em meninos diante de um gigante, quando o enfrentam. Parece que até mesmo os adversários aprenderam a conformar-se com a indiscutível superioridade, porque sabem que ele tem predicados anormais.

Alguns deles: reflexos rápidos e perfeitos, velocidade insuperável, chutes potentes e certeiros com os dois pés, salto e cabeçada fatais para os goleiros adversários, serenidade e visão de jogadas que lhe permitem fazer passes mortais para um companheiro colocado a qualquer distância. E, além de tudo, o pavor que a sua presença infunde a qualquer adversário, fator de que ele sabe tirar o máximo proveito.

Com a aquisição do craque, o Santos teve ascensão vertiginosa, no setor técnico e no financeiro. Louve-se a habilidade dos dirigentes do clube, que souberam resistir às enormes dificuldades que, paradoxalmente, foram criadas com a presença de Pelé na sua equipe.

Pouca gente acreditava que o Santos fosse capaz de fazer frente às fabulosas propostas monetárias feitas ao jogador para que ele se transferisse para a Europa. Por outro lado, o padrão de salários subiu de maneira astronômica, atingindo até mesmo outras agremiações.

Jogar no Santos passou a ser a aspiração máxima dos chamados "cobras" do nosso futebol. A tudo isso, o clube soube resistir com serenidade, como que fazendo um investimento para o futuro. Mas, em pouco tempo, ficou demonstrado que essa política foi a mais acertada, até hoje, seguida por um clube brasileiro.

Ganhando títulos sobre títulos, o Santos superou o Real Madrid em matéria de projeção internacional, e hoje exige o que quer para exibir-se em qualquer parte do mundo.

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