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Sexo,
mentiras e videoteipe
Ao fazer suspense sobre supostas acusações à
vida privada de Marta Suplicy, acenando com uma misteriosa
"lista de nomes", Paulo Maluf tenta trazer as eleições
para a briga moral.
Num calculado jogo de insinuações sobre vida
pessoal, videoteipe de disputas políticas, ele quer
vincular as insinuações ao passado de sua adversária,
que ganhou notoriedade como sexóloga e comunicadora.
Para completar o perfil, Paulo Maluf apresenta como denúncia
a defesa de Marta dos homossexuais. Valores anti-cristãos,
afirma. Adiciona, então, o ingrediente drogas, apresentando,
em tom de acusação, o fato de que ela, há
trinta anos, experimentou maconha.
A tradução do jogo de imagens é, em poucas
palavras, o seguinte: Maluf quer pintá-la como uma
pervertida. Moralmente incapaz, assim, de assumir a prefeitura
de São Paulo.
De um lado, promete dar "ordem à cidade"
e, de outro, aponta a adversária como "desordeira"
e tenta ganhar terreno no campo da ética, no qual está
visivelmente acuado.
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O Partido dos Trabalhadores sente-se confortável na
esfera ética. Tanto que, sem alarde, torceu para que
Maluf fosse ao segundo turno.
Na Câmara Municipal, o partido liderou os ataques a
Celso Pitta e cercou a chamada máfia da propina. Como
se viu nas urnas, ajudou a abater e impediu a reeleição
da base de apoio do prefeito, igual à de Paulo Maluf.
Ao associar Maluf a Pitta, além de outros escândalos
ainda em tramitação judicial, Marta Suplicy
quer, em poucas palavras, chamá-lo de desonesto. Moralmente
incapaz, assim, de assumir a prefeitura.
É uma batalha desgaste para ambos os lados, obrigados
a ter seu nome, justa ou injustamente, associado a deslizes
éticos e morais.
A verdade é que o eleitor gosta desse tipo de batalha,
reafirma o que pensam dos políticos. A exposição
de fragilidades, verdadeiras ou não, humaniza os candidatos,
igualando-os ao cidadão comum, desenha a ancestral
guerra do bem contra o mal, e dá um toque proviciano
de fuxico.
Bem mais atraente do que as áridas e, na maioria das
vezes, incompreensíveis, propostas administrativas.
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O problema é que, passada a disputa, o eleitor se esquece
do show e aguarda pelos resultados.
Pesquisa DataFolha, divulgada semana passada, informa que
os eleitores de Marta esperam, pela ordem, boas novidades
em emprego e educação.
Os eleitores de Paulo Maluf aguardam, em primeiro lugar, mais
obras viárias e, depois, melhoria da educação.
Sem contar sua promessa, central na campanha, de reduzir os
índices de violência na cidade.
Por não saberem exatamente os limites de um prefeito
_ confusão, muitas vezes, ajudada pela ilusão
lançada pelos próprios candidatos_ , o eleitor
quer resultados imediatos e, muitas vezes, fora do limites
da prefeitura.
Como não vê resultado rápido, até
porque nada que é bom e sério se consegue rapidamente,
volta a repetir o que sempre disse dos políticos.
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Nos últimos 20 anos, o desemprego entre jovens, na
cidade de São Paulo, cresceu quase 600%, quase 7 vezes.
Um em cada três jovens está desempregado.
Uma das raízes da marginalidade, a combinação
entre juventude, baixa escolaridade e desemprego gera, em
boa parte, as manchetes de crime.
Para visualizar melhor, fixe a atenção no seguinte:
são 700 mil jovens desempregados. Gente cheia de energia
e de frustração, atiçada na vontade de
consumir pelos meios de comunicação.
As chances de um prefeito melhorar a educação
e o emprego para essa massa é obviamente limitada.
Depende da confluência de política econômica
nacional (crescimento produzindo empregos) com ações
sociais, juntando, além de ministros, secretários
estaduais.
Esses 700 mil jovens deserdados dão a idéia
da dificuldade de produzir uma sociedade menos violenta e
assegurar poder à polícia.
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A expectativa do eleitor, a promessa dos candidatos e as crises
orçamentárias formam uma conta que simplesmente
não fecha. Munidos de documentos sobre o orçamento,
os candidatos sabem que o dinheiro nunca esteve tão
curto.
O problema do tiroteio ético _ ou, supostamente ético_
é que alarga-se ainda mais a diferença entre
a ilusão e a realidade.
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Por conta desse desvio, vende-se a honestidade como qualidade
e chave para eficiência. Combater a corrupção
torna-se quase uma varinha mágica.
Honestidade não é qualidade, mas requisito básico
de um administrador. Está para o administrador como
a roda para o carro. Carro com rodas não é vantagem;
é apenas o óbvio.
Honestidade não é eficiência, não
significa competência e talento, não substitui
garra.
Cometer deslizes na vida privada, todos cometemos, e, necessariamente,
não compromete a ação pública.
Discutir propostas é chato, pouco aparece do "humano",
da emoção; aparecem, no lugar, números,
tabelas, teorias. Mas a chatice administrativa é o
dia a dia do prefeito.
Contraditório e, muitas vezes, politicamente imaturo,
o eleitor quer a emoção do voto, mas, depois,
a solução _ sem ter de analisar, detidamente,
o caminho para essa mesma solução.
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