Quem tem a cara de São Paulo?
A questão
do título foi lançada, semana passada, a uma
amostra representativa dos habitantes de classe média
e alta da cidade de São Paulo; entrevistaram-se 360
pessoas das classe A e B, entre 18 e 44 anos.
Eles tiveram
que responder a partir de uma lista com 24 nomes de artistas,
esportistas, empresários, publicitários, políticos,
filantropos e jornalistas.
A lista
deveria refletir a diversidade paulistana, no exotismo e riqueza
de sua fauna e flora. Vai de Fernando Henrique Cardoso e Lula,
passando por Roberto Carlos, Rita Lee, Hebe Camargo, Jô
Soares, Antônio Ermírio de Moares, Chiquinho
Scarpa, até Joana Prado, a Feiticeira, e Adriane Galisteu.
A pesquisa
foi lançada, de início, quase como uma brincadeira,
sem maiores pretensões.
O resultado
delineia, porém, a alma de uma cidade, na visão
de sua elite.
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Realizada
pelo site Aprendiz em parceria com a CPM Research, a pesquisa
coloca, nos três primeiros lugares, categoria feminina:
Hebe Camargo (26), Rita Lee (23), Viviane Senna (20).
Cantada
em verso e prosa por Caetano Veloso, para quem ela é
nossa melhor tradução, Rita Lee está
praticamente empatada, perde por milímetros para Hebe
Camargo. Ganha na classe A; é, portanto, a preferida
da elite paulistana, que foi nutrida, na adolescência,
em sua deliciosa piração.
A badalada
Feiticeira ficou com 1%, apesar de estar em todos os out-doors
da cidade, graças à revista Playboy; pouco abaixo
de Ana Maria Braga (2) e Adriane Galisteu (4).
***
Na categoria
masculina, ficou em primeiro lugar Jô Soares (22), seguido
de seu ex-patrão Sílvio Santos e empresário
Antônio Ermírio de Moraes (16).
Em quarto
lugar, o jornalista Boris Casoy, que ganha por muito pouco
de Roberto Carlos (8).
É
mais do que o dobro de Fernando Henrique Cardoso (4) e Lula
(4) -- daí se vê como a elite paulista está
distante de seus políticos supostamente mais representativos.
Na preferência
da classe A, o segundo lugar coloca rigorosamente empatados
Sílvio Santos e Antônio Ermírio.
Chiquinho
Scarpa, frequentador permanente das colunas sociais, está
na lanterna (2).
***
Essa "votação" sobre a cara de São
Paulo dá uma dica óbvia: os seis mais votados
revelam como a elite e a classe média rejeitam o mundo
oficial e se identifica com os valores da criatividade e trabalho.
E despreza
exemplos de futilidade como Adriana Galisteu ou Chiquinho
Scarpa.
Daí
se entende que um empresário como Antônio Ermírio
de Moraes dispute como estrela como Silvio Santos e Jô
Soares -- todos os eles incansáveis representantes
de que se intitulou chamar de Terceira Idade.
A vitoriosa
na lista das mulheres, Hebe Camargo, está há
muito tempo na Terceira Idade, mas trabalha com o vigor de
uma adolescente.
Tanto
Rita Lee, a nossa mais completa piração, como
Viviane Senna, são pessoas que se notabilizaram por
realizar -- Rita na música, Viviane na ação
social, por meio de uma entidade não-governamental.
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Sílvio Santos ou Hebe Camargo são também
sinônimo de breguice. É porque São Paulo
também tem paixão pelo brega.
O fato
de dois símbolos -- Jô Soares e Rita Lee -- da
criatividade estarem no topo mostra ao mesmo tempo a reverência
pela inovação.
Ouço
muita gente no meio intelectual falar mal do Jô Soares.
Suspeito que estão mais incomodados com seu talento
do que defeitos.
Além
da inteligência, versatilidade e humor, ele faz de seu
programa um exercício de educação, coisa
rara na TV brasileira. Muito justo, portanto, que tenham colocado
Boris Casoy, outro comunicador educador, no topo da lista.
***
As
admirações reveladas na lista ensinam os valores
de uma cidade.
E como
o poder público está distanciado, enredado na
corrupção, incompetência, descaso.
São
dois mundos à parte -- o do poder, sujo, mesquinho,
e o da sociedade, vivo, criativo, trabalhador.
É
de entristecer ver como uma comunidade com tantos talentos
virou a costas para a cidade e deixou que os aventureiros
e irresponsáveis invadissem, impunemente, o poder.
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PS: A pesquisa Aprendiz/CPM perguntou sobre as pequenas coisas
que irritam o cotidiano do paulistano: 1) dar dinheiro para
o flanelinhas, ao estacionar o carro; 2) cocô de cachorro
nas calçadas; 3) camelôs.
O lugar
símbolo da cidade, na visão da classes média,
e alta são, primeiro, o Parque do Ibirapuera, depois
Teatro Municipal e MASP.
Clique aqui
para fazer o download da íntegra da pesquisa. (formato
Powerpoint)
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