No limite
Faltam
60 dias para o casamento de Winner, da raça Thin, com
Pepezinha, misto de vira-lata e yorkshire, uma espécie
de filha adotiva da socialite Vera Loyola.
Apesar
de seu prestígio e dinheiro, até agora ela não
conseguiu um padre para a cerimônia, trazendo as bênçãos
divinas ao casal canino.
Não
bastasse a perversa incompreensão da Igreja Católica,
Vera ainda se viu cercada de críticas racistas _ uma
expert mostrou-se inconformada e protestou contra a união
de uma yorkshire e um Thin.
"O
que importa é o amor", defendeu a emergente que,
há pouco tempo, causou polêmica ao patrocinar
uma festa de aniversário para Pepezinha.
"O
dinheiro é meu e gasto como quiser", justificou,
na época, diante dos ataques.
Certamente
a polêmica do aniversário, que alimentou a imprensa,
estimulou-a a mais um lance de marketing, desta vez o casório.
O calculado
ridículo da socialite não é uma anomalia,
mas, no Brasil, rotina dos ricos e famosos que esfregam nas
câmaras sua intimidade, para ganhar espaço.
Ridículo,
imaginam, é não fazer sucesso, transformado
em sinônimo de exposição da vida privada.
Havia
um tempo em que a imprensa de mexericos tinha de investigar
para descobrir detalhes inconvenientes dos "famosos"
_ hoje, são os "famosos" que rastejam atrás
da imprensa com sua intimidade.
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Pepezinha
tem, de certa forma, até mais sorte do que Sasha, a
filha de 2 anos da Xuxa.
O deslumbramento
da Vera Loyola não vai afetar a saúde psicológica
de sua "filha", que nunca vai entender que aqueles
fotógrafos e repórteres estão ali para
reverenciá-la.
Jamais
vai perceber que a marcha nupcial, os presentes e os "
parabéns pra você" destinam-se a um cachorro.
Pepezinha
sempre será uma cadela saudável _ mentalmente
falando, mais do que seus donos ou admiradores.
Na semana
passada, Sasha teve seu primeiro dia de aula. Acompanhada
da mãe, trazia a mochila e uma comitiva de seis seguranças.
Estranho
é que o momento foi presenciado pela imprensa, devidamente
informada de mais um evento da dupla de stars Meneguel.
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Dias antes,
Sasha foi projetada ao palco, encaminhada pela mãe,
num desfile.
Era mais
um detalhe da superexposição submetida à
criança, com ares de amor maternal.
Pergunte
a qualquer psicólogo sobre o efeito dessa exposição
e ausência de limite na vida de um indivíduo
para avaliar o risco.
O risco
é Sasha passar o resto de sua existência achando-se
centro do universo, vítima de uma carência e
narcisismo crônicos, sempre à procura de platéias
e holofotes.
"Falta
de limite desorganiza a criança, dificulta que desenvolva
auto-estima e produz um adulto incapaz de lidar com as frustrações",
afirma o psiquiatra Içami Tiba, com notável
trabalho sobre as consequências da falta de limites
entre crianças e adolescentes.
"
Temos, hoje, uma geração de pais que se comportam
como se fossem adolescentes", sustenta Tiba.
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Parceiras
em deslumbramento, Xuxa e Loyola são ícones
de uma época em que a tristeza, a depressão,
a intimidade, devem ser compartilhadas pela multidão.
Vivemos
o fim da reverência à privacidade, fenômeno
da era da informação, reforçado pela
falta de interesse pela coisa pública.
Como o
que é público interessa pouco e cada vez menos,
as atenções centram-se nos ídolos privados.
Pergunte
a 100 brasileiros adultos sobre o caso Eduardo Jorge e veja
quantos acompanham, de fato, o caso com atenção,
lendo os jornais na busca de detalhes.
Depois
de fazer a enquete, faça um teste de conhecimento,
com informações elementares que estabelecem
a relação entre Eduardo Jorge, o juiz Lalau
e Fernando Henrique Cardoso.
Se 1 em
cada 100 souber já é, aposto, muito.
Estamos
a poucos dias das eleições municipais e o assunto
não está na agenda dos cidadãos.
E o que
aparece são, em geral, bobagens como as promessas de
Maluf em transformar, em quatro anos, São Paulo em
Nova York.
Ou a ilusão
de Marta Suplicy, comprometendo-se a aumentar salários
dos professores, sem mostrar de onde vai tirar o dinheiro.
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Entende-se,
assim, a sedução do programa "No limite",
da TV Globo, submetendo os concorrentes a situações
humilhantes, escancarado a privacidade _ por livre vontade
dos escancarados, na busca da notoriedade.
O "charme"
do programa não é a disputa, mas a humilhação
de quem perde, as brigas tornadas públicas, a fragilidade
dos mais velhos, mais gordos. E, no caso do programa passado,
de um "negro" que diz ter sido eliminado por uma
questão racial.
Está
aí, em parte, o sucesso de Ratinho, com seus testes
de DNA, apresentadores que ganham notoriedade informando quem
é gay, e assim vai.
No geral,
o que a cultura do superexibicionismo produz é um show
de cinismo, superficialidade e mau gosto.
Testemunhamos
a leviandade de um Ratinho expondo a paternidade clandestina,
do amor mercadológico de Xuxa/Sasha e do ridículo
do casamento canino, de Vera Loyola.
Por causa
do sucesso a qualquer preço, vive-se no limite entre
a loucura e o deboche, apresentados (o que é pior)
como exemplos de bem-sucedidos.
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PS- Por
falar em eleições municipais. Não devemos
votar, por princípio, em qualquer candidato a prefeito
e vereador, cuja propaganda suje a cidade.
Se o indivíduo
não se incomoda em sujar a cidade que promete conservar,
não vai respeitar seu mandato.
O candidato
que emporcalha os muros equivale, na prática, a um
pichador.
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