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Por que é uma idiotice discriminar quem tem mais de 40 anos

Ao ser convidado para dar aula na Faculdade de Arquitetura do Mackenzie, o urbanista Jorge Wilheim fez uma inusitada contraproposta --não queria uma sala, mas um banco no jardim universidade.

Sentado no banco, rodeado de flores, árvores e alunos, ele detalharia o que aprendeu e fez, uma experiência que o projetou como um dos mais renomados urbanistas e arquitetos, com renome internacional.

Ele ainda não recebeu resposta ao direito de dar aula no jardim. Mas a idéia ganhou forma, batizada de "um banco na praça", destinada a valorizar o papel do idoso na sociedade.

Com 72 anos, Wilheim sugere que a sociedade, liderada pelo poder público, crie espaços, especialmente em praças, para que os mais velhos contem sua experiência aos jovens e ensinem habilidades que vão do xadrez, passando por matemática, marcenaria, inglês, até artesanato ou redação.

Ganhariam o título oficial, outorgado pela Secretaria da Educação, de "mestres do povo". Numa sociedade que acelerou a produção de conhecimento, os velhos seriam ainda mais vitais como referências, transformados, oficialmente, em professores.

Apaixonado por São Paulo, Wilheim acaba de produzir um texto com propostas concretas para melhorar a cidade, entregue ao Instituto Florestan Fernandes, defendendo a tese de que todos têm direito à paisagem. O que significa dar mais vida aos jardins públicos.


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Teoricamente, o próprio Wilheim, que virou, semana passada, novo presidente do Conselho Curador da Bienal, estaria imprestável ao mercado de trabalho, com seus 72 anos.

As chances de emprego vão caindo gradativamente depois dos 40 anos de idade, especialmente para cargos executivos.

Empresa de colocação de executivos, a Manager constata, nas suas estatísticas internas, que cerca de 40% das vagas abertas exigem, inapelavelmente, pessoas com menos de 40 anos.

A Catho, também no ramo de empregos, realizou pesquisa com 7002 executivos. Acima de 50 anos, com cargos de gerência, apenas 15%; supervisor, 6,4%.

Na hipótese de uma demissão de dois funcionários, com igual desempenho e remuneração, são cortadas as cabeças, em 70% dos casos, dos mais velhos.

Atenta ao nervosismo dos executivos mais velhos, a Manager escreveu um manual intitulado "Idade não é barreira profissional", com dicas de auto-ajuda do seguinte tipo "Evite comparar-se aos jovens, porque eles têm outra visão, outros planos e às vezes são mais impetuosos do que deveriam. Além disso, é um risco para a auto-estima adotar esse tipo de atitude".

Mais uma: " Não vá para um primeiro contato ou entrevista achando que sua idade é um problema. Toda vez que você acha que existe um problema, cria-se um fantasma. E o problema- se é que existe- torna-se um fantasma".


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A própria existência do manual já denuncia que existe um problema, arraigado na mentalidade empresarial.

Se, porém, estiverem corretos os mais badalados livros sobre negócios e educação, essa mentalidade vai produzir mais estragos do que benefícios às empresas. Ou seja, vão perder dinheiro. Se é que já não estão perdendo.

Idade não costuma ser problema em algumas categorias. Professor, por exemplo.

Afinal, quanto mais velho, mais experiência e mais leitura. Logo, tem mais o que ensinar.

Nos seminários sobre perspectivas de negócios, parte-se do princípio de que nunca se gerou tanto conhecimento e competição ao mesmo tempo.

Logo, sobrevive quem melhor inovar nos seus métodos, atrair, reter e desenvolver seu capital humano -- ou seja, os que trabalham.

Traduzindo, a empresa que sobrevive é aquela é inventa e se reinventa, fazendo de cada funcionário aluno e professor. Na prática, se converte, em essência, numa escola onde se produz conhecimento.

Consequência: quanto mais mantiverem em seus quadros, devidamente valorizados, os mais velhos, maior a chance de transmissão permanente da experiência.

Exatamente como numa universidade, onde noção de sapiência está associada à idade.

***


O preconceito e ignorância fazem com que se matem talentos antes da hora, num desperdício de capital humano; especialmente numa sociedade indigente como a brasileira.

As eleições municipais são mais uma oportunidade, como demonstrou Wilheim, para se pensar na ocupação de espaços físicos e humanos.

Ridículo que, com tanto aluno precisando de ajuda, não possamos utilizar os mais velhos para estarem nas escolas, bibliotecas e praças, ensinando o que aprenderam.


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PS - A propósito, o autor desta coluna tem 44 anos, repletos de erros nas mais variadas atividades: pai, filho, marido, profissional. Errei muito mais do que gostaria, o que acabou me ensinando que apenas o tempo não ensina nada a ninguém. Mas sem ele também não aprendemos quase nada.

Clique aqui para ler o texto preparado por Wilheim com idéias para melhorar a paisagem de São Paulo. É leitura obrigatória para candidatos a prefeito e vereador, tamanha a criatividade e viabilidade das propostas.

Clique aqui para ler o manual preparado pela Manager.

 

 
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