Descrição de chapéu Governo Trump

De olho em 2020 e em vitórias diplomáticas, Trump vive impasses ao redor do mundo

Acordo com a China e plano de paz para o Oriente Médio são questões sensíveis para o americano

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David E. Sanger
Washington | The New York Times

O ex-assessor John Bolton deixou o gabinete de crise e o Presidente Donald Trump tem em suas mãos várias questões diplomáticas a serem resolvidas em pontos estratégicas do mundo todo.

Na visão de Trump, o tempo está correndo: ele precisa de algumas grandes vitórias até as eleições em novembro de 2020.

Mas ele também quer provar que sua abordagem idiossincrática à política externa —como uma série de acordos adotados no lugar da filosofia do "hard power" (linha dura) e do "soft power" (linha branda) americanos— pode produzir resultados que fogem da política externa de Washington instituída há uma década ou mais.

O presidente dos EUA, Donald Trump, no gramado sul da Casa Branca, em Washington - Tasos Katopodis/Reuters

Estas são as seis questões em análise:

Coreia do Norte

Objetivo: desnuclearização total, completa e verificável, incluindo o fim do programa de mísseis balísticos intercontinentais da Coreia do Norte.

Pergunte a Trump sobre suas negociações com Kim Jong-un, o líder norte-coreano, e ele lhe dirá que já é o vencedor: ele foi o primeiro presidente americano a se encontrar com um líder norte-coreano —três vezes agora— e o primeiro a entrar brevemente em território norte-coreano.

Ele recuperou os restos mortais de soldados americanos e conquistou uma suspensão de quase dois anos nos testes com armas nucleares e de mísseis balísticos intercontinentais. Tudo isso levou Trump a declarar no Twitter, após seu primeiro encontro com Kim em Cingapura, que a Coreia do Norte "não era mais uma ameaça nuclear".

O único problema é que a capacidade nuclear da Coreia Norte aumentou significativamente desde aquela reunião. Estimativas de inteligência indicam que o estoque de combustível do Norte cresceu e o arsenal de mísseis também.

Os testes de mísseis de curto alcance melhoraram a capacidade de Kim de atingir as bases dos EUA na Coreia do Sul e no Japão, com uma nova geração de armas destinadas a evitar as defesas antimísseis. E a Coreia do Norte não entregou uma lista de suas armas, mísseis e instalações, o que deveria ter sido o primeiro passo.

Trump mantém a convicção de que Kim ficará impressionado com a perspectiva de novos hotéis nas praias (altamente minadas) da costa leste da Coreia do Norte. O país inteiro, ele observa, é uma propriedade excelente, com acesso fácil à China, Rússia, Coreia do Sul e Japão.

A única questão é se ele pode convencer seu novo amigo a desistir das armas que, na visão do líder norte-coreano, o mantiveram no poder. Isso pode significar definir etapas parciais —começando com um congelamento nuclear— para chegar até um acordo mais amplo que pode ou não acontecer.

Expectativas de vitória: quase nenhuma, a menos que Trump mude os objetivos. É mais provável que ele concorde com reduções incrementais e considere isso uma vitória. 


Irã

Objetivo: impedir que o Irã tenha acesso a uma arma nuclear.

Para o governo Trump, não existe uma ameaça mais real do que o Irã. O Secretário de Estado Mike Pompeo vê isso como a razão de praticamente todos os problemas no Oriente Médio, e Trump insistiu com vários assessores de que a única maneira de conseguir um bom acordo com o Irã seria destruir o acordo nuclear de 2015, que ele considera "terrível" e classificou como uma concessão, já que não proibiu para sempre que o Irã produzisse combustível nuclear.

Bolton, que antes de ingressar no governo era um defensor da mudança do regime liderado pelos americanos no Irã, foi um entusiasta da campanha de "pressão máxima". E, de fato, ela foi mais bem-sucedida do que muitos especialistas esperavam.

As receitas de petróleo do Irã caíram, sua economia está encolhendo e algumas de suas elites estão começando a se perguntar se não é hora de reconhecer o inevitável, que é negociar com um presidente que eles não suportam.

Toda a atenção está voltada para a abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas em dez dias. Trump e até Pompeo disseram que estão prontos para negociar sem pré-condições e podem se encontrar com o presidente Hassan Rouhani do Irã.

"Acredito que eles gostariam de fazer um acordo", disse Trump na quarta-feira (11). "Se o fizerem, isso é ótimo. Se não, isso também é ótimo."

Ele insistiu que o objetivo ainda é o mesmo. "Eles nunca terão uma arma nuclear", disse ele. "Se eles estão pensando em enriquecimento de urânio, eles podem esquecer."

O fator de incerteza aqui é Rouhani, porque ele não está disposto a se reunir com Trump até que as sanções sejam revogadas, ou ao menos é o que ele diz.

Expectativas de vitória: nada ruins. Os iranianos são conhecidos por mudar de ideia e negociar quando não há outras opções. E, ao contrário da Coreia do Norte, eles não têm armas nucleares e, portanto, têm menos a perder.

 

Afeganistão

Objetivo: liderar um acordo de paz para retirar as tropas americanas.

Toda vez que Trump vai a Camp David, ele vê fotos de Jimmy Carter que, em 1978, colocou as delegações de Israel e Egito no local para selarem um acordo de paz. Alguns assessores acreditam que isso inspirou Trump a convidar o Talibã —que deu refúgio à Al Qaeda para planejar os ataques de 11 de setembro de 2001— para o refúgio presidencial. O argumento de Bolton de que essa era uma ideia maluca precipitou a demissão desta semana.

Mas essa questão está longe do fim. O "acordo de paz" que Trump está divulgando não segue os moldes do acordo de Camp David. Isso exigiria uma "redução da violência" e o início de um diálogo sobre o compartilhamento de poder entre o Talibã e o governo afegão do presidente Ashraf Ghani, apoiado pelos EUA.

Poucos pensam que isso levará à verdadeira paz. Mas pode ser o suficiente para dar a Trump a chance de reduzir significativamente o número de tropas americanas no Afeganistão.

Expectativas de vitória: bastante altas. As únicas pessoas que querem que as tropas americanas saiam, mais do que Trump, são os talibãs.


China

Objetivo: não está claro. O presidente constantemente mistura seus objetivos comerciais e suas preocupações de segurança, muitas vezes em detrimento de ambos.

Trump calculou mal ao desafiar o presidente da China, Xi Jinping: ele achava que Xi cederia à medida que sentisse o impacto das tarifas. Até o momento, Xi não cedeu e o nervosismo do mercado é um reflexo do medo de que as duas maiores economias do mundo possam entrar em colapso simultaneamente.

O maior problema que o governo Trump enfrenta é que, após quase 32 meses no cargo, ele não possui uma estratégia integrada para a China.

Pompeo e muitos nas instituições militares veem em Xi, o líder chinês mais poderoso em décadas, a determinação de espalhar a influência do país pela África, América Latina e, cada vez mais, na Europa —e de usar sua tecnologia, liderada por redes produzidas pela Huawei, para exercer controle.

O Secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, e outros membros da equipe de economia estão convencidos de que Xi, no final, aceitará o melhor acordo econômico possível.

E Trump, sempre buscando flexibilidade, alterna entre esses dois modos, às vezes acusando o progresso da China com redes 5G, inteligência artificial e computação quântica de ser uma ameaça à segurança nacional e, outras vezes, sugerindo que pode haver negociação

Expectativas de vitória: ruins. Xi está jogando pacientemente e Trump está pensando em novembro de 2020.


Oriente Médio

Objetivo: fazer com que a região aceite o plano de paz de Jared Kushner.

O presidente e seu genro, Jared Kushner, levaram dois anos estudando a paz no Oriente Médio —"o acordo do século", como Trump o chamava— e quando eles revelaram a primeira parte do plano, tudo se resumia a fazer com que os países árabes ricos, entre outros, investissem dezenas de bilhões de dólares nos territórios palestinos, bem como no Egito, Jordânia e Líbano.

Mas os principais responsáveis evitaram a conferência e, com Israel em meio ao seu próprio período eleitoral, o lado político do plano não será divulgado até depois da eleição —se for o caso.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu frustrou toda a proposta esta semana com sua promessa pré-eleitoral de anexar quase um terço da Cisjordânia ocupada —reduzindo qualquer futuro Estado palestino a um enclave cercado por Israel.

Expectativas de vitória: quase nenhuma. Não há provas que respaldem a ideia de que Kushner terá sucesso onde outros falharam.


Rússia

Objetivo: não está totalmente claro. Cercado por conselheiros que defendem moderação, Trump ignora ofensas e defende a reintegração da Rússia.

Sozinho entre seus assessores de política externa, Trump acredita que a chave para lidar com a Rússia é a reintegração, permitindo que o país de volte ao G7, perdoando (ou ignorando) sua anexação da Crimeia e jamais mencionando seus esforços para influenciar as eleições de 2016, uma acusação que ele descartou como uma "farsa".

Enquanto isso, o Pentágono está se preparando para uma mudança fundamental na política, na qual a Rússia e a China são consideradas países "revisionistas" que devem ser contestados. E o FBI, o Departamento de Segurança Interna e a Agência de Segurança Nacional dizem que estão constantemente criando planos para combater a influência maligna russa nas eleições de 2020.

​Trump argumenta que "não há razão para isso" e diz que, com uma pequena ajuda à economia russa, seria muito mais fácil de lidar com o presidente Vladimir Putin. Com a saída de Bolton, Trump pode muito bem tentar negociar uma extensão do tratado Novo Start, o último acordo de controle de armas restante entre os Estados Unidos e a Rússia.

Mas quando se trata de revogar sanções, Trump fica em um beco se saída com seu próprio partido, cujos líderes dizem que não têm intenção de reverter décadas de visões beligerantes sobre moderação.

Expectativas de vitória: Trump não está jogando poker aqui —ele está jogando paciência. A única vitória possível é uma extensão do tratado de controle de armas.

Tradução por agência Fox

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