Descrição de chapéu Rússia Itália

Veja momentos surreais de 2022, da alface vencedora à mesa gigante de Putin

Ano ainda teve país-ilha ameaçado pela crise climática no metaverso e aquário colossal que explodiu

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São Paulo

A guerra estourou, a rainha morreu, a Covid fraquejou, o clima esquentou e a Terra, bom, a ONU estima que desde novembro somos 8 bilhões de terráqueos por aí, oito vezes mais que no começo do século 19.

Se alguém dissesse, já no meio de dezembro, que muita água ainda rolaria por baixo de 2022, talvez seu interlocutor não estivesse esperando algo tão literal assim. Até que o AquaDom, colossal aquário de quase 25 metros de altura instalado no saguão de um hotel cinco-estrelas em Berlim, explodiu, encharcando um quarteirão e matando quase todos os 1.500 peixes, sósias do Nemo inclusos.

Fachada do hotel onde ficava o aquário Aquadom, em Berlin, que explodiu
Fachada do hotel onde ficava o aquário Aquadom, em Berlin, que explodiu - John Macdougall - 16.dez.22/AFP

Enquanto isso, o apocalipse climático continua à espreita, levando Tuvalu, um país-ilha no Oceano Pacífico que corre o risco de ser engolido pelos mares, à diáspora virtual. O governo local anunciou que replicaria o território no metaverso para preservar a memória da nação ameaçada de extinção.

Em julho, o secretário-geral da ONU, António Guterres, questionou se a humanidade escolheria "a ação coletiva ou o suicídio coletivo". Sintoma de um planeta superaquecido, a onda de calor europeia incinerou florestas e economias. Milhares morreram. Para esfriar a cabeça dos residentes, um zoológico de Roma distribuiu para a bicharada picolés feitos à base de frutas, cereais, carne e sangue.

A fritura também chamuscou líderes do continente. A política do Reino Unido ficou mais desgrenhada que a cabeleira cor de gema de Boris Johnson, primeiro-ministro que chamou o caminhão de mudanças em setembro. O premiê renunciou após uma avalanche de crises, e Liz Truss, coitada, assumiu o posto.

O tabloide Daily Star fez um chiste herbívoro com Truss, a Breve, e, ao som do hino nacional, anunciou numa live a vitória de uma alface sobre ela. Explico: ao primeiro sinal de turbulência política, a publicação começou a transmitir ao vivo a imagem de um pé de alface —que nos mercados não valia mais do que R$ 4—, com a dúvida: "Liz Truss vai durar mais do que essa alface?". A hortaliça venceu.

Em menos de dois meses, Truss foi substituída por Rishi Sunak. Se der sorte, entrará para a história como a primeira-ministra que enterrou a mais duradoura rainha da Inglaterra, Elizabeth 2ª. Ocupou o trono seu filho, agora Charles 3º, que viralizou com uma foto dos seus "dedos de salsicha". O inchaço avermelhado na extremidade das mãos levantou preocupações sobre a saúde do recém-coroado.

Não longe dali, a Itália ganhou uma primeira-ministra que, quando tinha 19 anos, chegou a definir o ditador fascista Benito Mussolini como "um bom político". Em outubro, Giorgia Meloni virou o rosto do primeiro governo com inspiração na extrema direita no país desde a Segunda Guerra Mundial.

A festa azedou para outra primeira-ministra, a finlandesa Sanna Marin. Sob pressão política, foi forçada a fazer um teste de drogas após vídeos e fotos festejando se espraiarem pelas redes sociais. Deu negativo.

Marin chegou a se desculpar por uma imagem que vazou de duas influencers se beijando, ambas de topless, num convescote na residência oficial da política. Ela depois rogou por seu "direito à alegria e à vida", e várias finlandesas inundaram as redes reclamando de sexismo e compartilhando gravações questionando se uma mulher jovem e atraente se divertir é ofensa nacional.

Na bancada da testosterona, o ex-presidente americano Donald Trump ganhou, ao mesmo tempo, um admirador e um concorrente no ranking de quem mente mais. George Santos, filho de brasileiros, foi eleito deputado por Nova York. Mas depois que a cadeira na Câmara já havia sido garantida, descobriu-se que ele não tinha estudado onde havia dito que tinha estudado nem trabalhado nas empresas em que dizia ter trabalhado. Até a origem familiar, que seria judaica, foi fraudada. Por fim, ele admitiu que tudo era mentira.

Da mesma escola de Trump, o premiê húngaro, Viktor Orbán, deu uma declaração nazista segundo sua própria ministra de Inclusão Social, que renunciou após ele dizer que os húngaros "não querem se tornar um povo mestiço". Na Rússia, Vladimir Putin recepcionou colegas numa mesa que se espichava por cinco metros. Justificou o encontro presencial a distância com o francês Emmanuel Macron com o medo de contrair Covid. O encontro aconteceu para tentar distensionar as relações diplomáticas antes mesmo de a Rússia entrar em guerra com a Ucrânia, detonada logo depois. Putin, porém, não deixa ninguém em casa chamar a guerra pelo nome (só ele pode). Enfim, já morreram milhares na tal "operação militar especial".

Putin parabenizou em outubro o chapa Xi Jinping, que se consolidou como manda-chuva do Partido Comunista ao garantir seu terceiro mandato. Pouco depois, contudo, o clima na China mudou. Xi passou a ver uma série de protestos, os maiores contra ele desde que assumiu o poder. A gota d’água foi um incêndio que matou dez pessoas, tragédia atribuída ao atraso no socorro e à dificuldade de moradores em deixar o prédio, tudo devido à severa política de Covid zero que só agora foi flexibilizada.

Até as imagens da Copa do Mundo do Qatar irritaram. Enquanto a diplomacia chinesa presenteava o país-sede com dois pandas, a Si Hai e o Jing Jing, uma população que convivia havia quase três anos com confinamentos mil assistia a estádios de futebol lotados de gente do mundo todo sem máscara.

A Ásia abrigou uma série de motins populares. No Irã, a morte de uma jovem detida por não usar o véu islâmico deslanchou uma onda de protestos. No Sri Lanka, manifestantes que exigiam a renúncia do presidente invadiram sua residência e caíram na piscina, alguns de boia e tudo. Gotabaya Rajapaksa renunciou dias depois. No Timor Leste, por outro lado, o Nobel da Paz José Ramos-Horta tomou posse como presidente horas antes de seu país celebrar 20 anos de independência.

Outro rumo tomou a Guiné Equatorial, que "reelegeu" Teodoro Obiang, detentor do infame recorde de ditador mais duradouro do mundo. Está desde 1979 no poder. Um filho dele é investigado por lavagem de dinheiro, pela compra de uma cobertura na paulistana rua Haddock Lobo por meros R$ 15,6 milhões.

Pelas redondezas latino-americanas, fortaleceu-se a chamada "onda rosa", que nos últimos anos devolveu ao poder governantes progressistas na Argentina, na Bolívia, no Chile, na Colômbia e no Brasil, com a derrota de Jair Bolsonaro (PL) para Lula (PT). Algumas vitórias soam hoje desbotadas, como a do peruano e ex-professor Pedro Castillo, que tentou dar um golpe e acabou preso. Imagine que o Porta dos Fundos já usou o Peru em um esquete como exemplo de país onde não acontece nada. Surreal.

Cristina Kirchner, vice-presidente argentina e nome graúdo da política local, gerou comoção pública ao ficar na mira de uma pistola a poucos centímetros de sua cabeça, em setembro. A arma falhou. Três meses depois, sofreu um revés público ao ser condenada por corrupção a seis anos de prisão.

Por fim, Jair Bolsonaro, à moda do ídolo Trump, tentou questionar o resultado da eleição com uma insustentável teoria de fraude nas urnas. Até aqui, em vão. A saída do Palácio do Planalto o fez ter uma recaída na tristeza, segundo aliados. O caminhão de mudanças chegou uma semana antes do Natal.

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