Dona Vicentina trabalhou como secretária na Folha durante mais de 5 décadas
Ela é uma das profissionais que mais ocupou cargos de secretária na Redação
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Conhecida como dona Vicentina, Vicença Arcângela Imperatrice trabalhou ao longo de 55 anos na Folha, sempre como secretária. Fez jus, segundo ela, ao sobrenome: “Sempre fui tratada como uma rainha no jornal, mesmo depois de ter saído de lá”.
Ela contou a idade durante a entrevista, mas me pediu que não a revelasse. “Ninguém acredita. Tenho só os cabelos brancos, não tenho rugas. Por isso, não fala nada, por favor, mas pode dizer que sou taurina, tenho o pé no chão.”
Dona Vicentina é uma das profissionais que ocupou mais cargos de secretária na Redação. Nessa função, cuidava dos pagamentos dos colaboradores, resolvia questões burocráticas, entre outras tarefas.
Trabalhou 13 anos na Folhinha; 26, na Ilustrada; 8 em Turismo, e mais 8 na editoria dedicada a cadernos especiais.
Em 2017, meses depois de se aposentar, ela foi submetida a uma cirurgia para retirada de um câncer no intestino. “Sinto muita saudade de trabalhar na Redação, mas agora está todo mundo em casa, como eu, né?”
Devido à pandemia, está reclusa em seu apartamento, no bairro de Campos Elíseos, na região central de São Paulo, desde 19 de março. “Por conta da minha doença e de minha idade —não conta, por favor!—, sou do grupo de risco.”
Nascida em uma casa na rua da Graça, no bairro do Bom Retiro, dona Vicentina tinha uma tia, Ida Sirna, que foi telefonista da Folha durante quase 30 anos.
“Visitava minha tia, quando o jornal ainda era na rua do Carmo [sede até 1949]. Depois, a Folha foi para um prédio da alameda Cleveland, antes de ir para a Barão de Limeira, onde comecei a trabalhar.”
Da Redação na rua do Carmo, dona Vicentina lembra a escada antiga de madeira. No prédio da alameda Cleveland, recorda-se de ter conhecido muitos fotógrafos. Entre eles, Gil Passarelli (1917-1999), que trabalhou na Folha por mais de 50 anos e cobriu episódios importantes, como o incêndio do edifício Andraus.
Dona Vicentina fez o ginásio, estudou piano, aprendeu a costurar, pintar, datilografar, fez curso de taquigrafia e de secretariado, que não concluiu. Queria ser farmacêutica, mas seu pai, Antônio Imperatrice, que trabalhava na área administrativa da estação da Luz, e a mãe, Santa Sirna Imperatrice, costureira, não permitiam.
“Não queriam que eu trabalhasse. Meu primeiro e único emprego foi na Folha. Entrei com 25 anos, o seu Frias [como costumava ser chamado Octavio Frias de Oliveira, 1912-2007, jornalista, empresário e proprietário da Folha] nem tinha comprado o jornal ainda.”
Uma vaga para datilógrafa foi a porta de entrada para a futura secretária na Folha: “Entrei em março de 1961 e fui registrada, como datilógrafa, em abril. Fui para fazer um guia de ruas, mas surgiram outras vagas. Trabalhei para o seu Frias, para o Caldeira [Carlos Caldeira Filho, 1913-1993, empresário, político e sócio de Frias na Folha] e depois fui para a Redação, como secretária da Folhinha e do Suplemento Feminino”, conta.
Por conta do trabalho nessa última editoria, ela conheceu estilistas como Clodovil e Dener. Ela lembra que naquele tempo, anos 1960 e 1970, jamais trabalhava de calça comprida, só de vestido e salto alto. “Eu era uma mulher muito bonita e chamava a atenção.”
Na Folha, conheceu um repórter, se casou e se separou. “Não foi um casamento feliz. Feliz foi o tempo que trabalhei, mas sei que esse tempo não volta mais”, disse ela, que se permitiu ser fotografada por um drone, respeitando o isolamento social.
Como secretária da diretoria do jornal e de diversas editorias, dona Vicentina viu e ouviu muitas histórias, mas que, como sua idade, ela prefere não revelar. Talvez esteja nessa discrição a razão de sua elegância.
Dona Vicentina
Nascida no bairro do Bom Retiro, em São Paulo, a secretária começou a trabalhar em 1961 na Folha, onde permaneceu por 55 anos. Atuou como secretária da diretoria do jornal e depois de editorias como Ilustrada, Folhinha, Turismo e Informática.
Este texto faz parte do projeto Humanos da Folha, que apresenta perfis de profissionais que fizeram história no jornal.
Erramos: o texto foi alterado
Diferentemente do que foi publicado, Octavio Frias de Oliveira morreu em 2007, não em 2017. O texto foi corrigido.
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