Na cozinha do confeiteiro Lucas Corazza, 33, chocolate importado não tem vez. E ele fala com conhecimento de causa, pois, desde sempre, foi sua guloseima preferida. "Quando garoto, fazia lição de casa comendo uma barra de chocolate ou um bombom", conta ele, que sempre escolhia os mais puros ou com frutas. "Aqueles que ninguém queria e sobravam na caixinha."
Lucas começou a cozinhar aos 14, assistindo ao "Note e Anote", programa de Ana Maria Braga, e lendo a "Claudia Cozinha". E levou pouco tempo até se arriscar a vender pães de mel e bala de coco na escola. "Na época, eu achava que o futuro da confeitaria era a pasta americana", lembra.
Alguns anos depois, um estágio com Alex Atala mudaria sua percepção para sempre. "Ali, aprendi a realmente valorizar e extrair o melhor de um ingrediente. E o bolo de pasta americana, definitivamente, não tinha nada disso", conta.
Louco por açúcar, Lucas é embaixador de uma marca brasileira de chocolates e jurado do programa "Que Seja Doce" (GNT), em que, a cada edição, tem de provar nada menos do que nove doces produzidos pelos participantes. Talvez seja isso que lhe dê tanta energia para ainda comandar um food truck em feiras gastronômicas pela cidade e viajar pelo Brasil e exterior divulgando a confeitaria e o chocolate brasileiros.
"O Brasil ocupa o sexto lugar entre os maiores produtores de cacau do planeta e isso não é pouca coisa. Acho uma vergonha não batermos no peito para dizer que temos um dos melhores chocolates do mundo."
A tarefa é difícil, já que estamos em um momento em que o chocolate belga é endeusado por confeiteiros e culinaristas. "Claro que ele é bom e sinônimo de qualidade. Mas gosto de mostrar que não é a única opção."
Ele conta que muitas vezes é até malvisto no meio por seu posicionamento. "Hoje, o mundo inteiro —entre eles vários chefs brasileiros— fala da valorização de ingredientes e produtores locais. Além de incoerente, acho absurdo comprarmos um chocolate cujo cacau sai do país, vai para a Europa e volta com o nome de chocolate de origem do Brasil."
"Por que temos de pagar quatro vezes mais em um chocolate belga produzido com matéria-prima brasileira?", alfineta ele, que neste mês viajou para os Estados Unidos para mostrar suas criações na Smorgarburg, uma feirinha gastronômica do bairro do Brooklyn, em Nova York. Tudo com produto genuinamente nacional, é claro.