Lequetreque, descobri outro dia, é o nome do franguinho da Sadia. Inventado no mesmo ano em que um televisor apareceu na minha casa, ele cruzava correndo a tela em preto e branco, levantava nuvens de fumaça e terminava em cima de um prato de salada.
As TVs se transformaram, mas o bichinho é o mesmo. Na última Copa do Mundo, com o mesmo capacete, irritava a CBF com a camiseta amarela da seleção.
No Brasil há mais de 70 anos, a Sadia conta com a memória afetiva para vencer em quatro categorias na preferência dos cozinheiros, segundo pesquisa Datafolha. Conta também com seu principal rival, que numa estratégia ousada reforçou a letra S na luta por espaço de mercado.
E conta com Lequetreque, que em 1971 já dominava o segredo do sucesso. Deitava sem mais preparos sobre a folha de alface porque já vinha defumado.
Hoje, sob a mesma letra S, ele chega empanado, temperado, fatiado ou processado em outras variações de particípio passado que no fundo tem um significado: "facilitado".
O melhor ingrediente, claro, depende da receita. A melhor salsicha é a que podemos comer mesmo sabendo como foi feita. O melhor presunto é o mais fresquinho. O melhor frango é o que minha avó assava depois de uma noite toda na vinha-d'alhos, e o melhor hambúrguer é o do meu ex-marido, tostado por fora e suculento por dentro (com batatas no sal e no alecrim).
O melhor da Sadia é entender, desde quando Lequetreque saiu do ovo, que para o paulistano há algo tão valioso quanto uma boa comida: o tempo.