Envio de tropas federais ao Oregon catalisou crises de 2020 em torno de Trump
Episódios violentos em Portland durante atos antirracismo revelam diferentes aspectos de problemas do país
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Cinquenta dias antes da eleição americana, a Folha começou a publicar a série de reportagens “50 estados, 50 problemas”, que se debruça sobre questões estruturais dos EUA e presentes na campanha eleitoral que decidirá se Donald Trump continua na Casa Branca ou se entrega a Presidência a Joe Biden.
Até 3 de novembro, dia da votação, os 50 estados do país serão o ponto de partida para analisar com que problemas o próximo —ou o mesmo— líder americano terá de lidar.
Se tropas federais são convocadas, é porque há um problema. Se tropas federais são convocadas por Donald Trump, é porque há alguns problemas acontecendo ao mesmo tempo. Crises nunca são geradas por um só elemento, mas a recente presença de forças enviadas pela Casa Branca a diversos estados, em especial ao Oregon, convergiu quase todas as questões-chave de 2020 para o líder americano.
Na onda de manifestações antirracismo após o assassinato, em Minneapolis, de George Floyd, homem negro asfixiado por um agente branco, a principal cidade do Oregon, Portland, protestou durante mais de cem dias consecutivos, em atos que desembocaram em violência policial, episódios de depredação pública, proteção a monumentos e prédios federais e uso da máquina do Estado para reforçar narrativas eleitorais.
Ali, ainda que muitos dos dias de protesto tenham sido pacíficos, o que ficou marcado foram as cenas caóticas de confronto, "zonas de guerra", como a mídia americana, com certo exagero, acostumou-se a adjetivar. Assim, a cidade virou também uma oportunidade para espalhar o mantra da lei e da ordem martelado por Trump. Se democratas não te protegem dos baderneiros, eis o homem que te protege.
Na prática, a tática consistiu em repressão violenta nas ruas. Vídeos que denunciavam agressões e prisões sem justificativa, às vezes cumpridas por oficiais sem identificação, viralizaram —e também geraram efeito rebote que, principalmente no começo da crise, impulsionou os protestos.
Convocados no começo de julho para ir a Portland, os agentes federais faziam parte de uma força-tarefa do Departamento de Segurança Nacional criada via decreto presidencial em 26 de junho para proteger monumentos e instalações diante do movimento de derrubada de estátuas de líderes confederados e de outras figuras históricas ligadas à discriminação e ao colonialismo.
Em Portland, monumentos também caíram, como o do ex-presidente Thomas Jefferson, mas o alvo principal era o Fórum da Justiça Federal, propriedade do governo federal, onde manifestantes pressionaram grades e proteções de madeira instaladas ao redor do prédio.
As animosidades provocaram reflexos da aguda polarização do país em diferentes níveis. No institucional, Trump e o democrata Ted Wheeler, prefeito de Portland, chocaram-se diversas vezes, assim como líderes de Chicago, Seattle e outras cidades que receberam tropas do governo. Para eles, a intervenção configurava abuso de poder, e os agentes só estavam escalando a violência.
Do lado do republicano, além do discurso da lei e da ordem, Trump tinha o apoio de parte dos donos do comércio local, incomodados com a violência, os atos de vandalismo e os efeitos econômicos.
No nível prático —e chocante—, os desdobramentos superaram com folga as palavras de políticos. Caravanas de apoiadores de Trump foram ao centro da cidade, alguns dos quais atirando balas de paintball e spray de repelente em manifestantes do movimento Black Lives Matter que fechavam ruas.
No fim de agosto, um homem branco, que usava um boné com uma insígnia do grupo de extrema direita Patriot Prayer, foi morto a tiros. Dias depois, agentes de segurança mataram, também a tiros, um simpatizante de grupos antifascistas suspeito de ter matado o militante de direita.
Episódios assim geram preocupações com o que pode acontecer no dia da eleição e exacerbam o clima do país, imerso neste caldo de atos antirracismo, derrubada de monumentos históricos, violência policial, uso da máquina do governo para reforçar um discurso e polarização que desemboca em atos violentos. Portland, a principal cidade do Oregon, agregou todos eles. Um estado, muitos problemas.
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