Diário de Confinamento: 'A dor é temporária; o orgulho é para sempre'
A 20 dias do fim do isolamento, Espanha discute medidas para escolas e saída de crianças às ruas
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Dia #37 – Domingo, 19 de abril. Cena: o tráfego em Barcelona aumentou 24% neste último fim de semana, embora ainda seja 87% menor que o normal.
Nesses tempos de vida-no-caixote, toda santa e não-santa manhã tem sessão de ginástica em casa. A rotina, que outros amigos confinados também adotam (substituindo musculação por HIIT, chi kung, yoga com gatos, zumba...), tem ajudado a preservar a sanidade e o bom convívio doméstico.
Esses tutoriais do YouTube com bonequinhos são uma miauravilha. Que live de Instagram o quê, nosso lance é animação pós-flash dos anos 2000s.
O canal que a gente segue mostra gente digitalizada com expressão de zumbi fazendo burpees ao compasso de frases de incentivo no canto da tela. Nossa preferida: "a dor é temporária; o orgulho é para sempre".
A graça que a gente achou quando viu essa Obi-Wan colocação pela primeira vez já foi rapidamente soterrada pelos devidos semifalecimentos (a dor, a dor) com 4.138.789 agachamentos e abdominais.
De todas as formas, o orgulho é real e a gente vem até perdendo peso (pelo menos, até que estejamos "livres" de novo, e vença o caos e a vontade de sair correndo na rua pelaaaad —brincadeira. Mais ou menos).
A trilha sonora tipo house-maromba royalty free é pontuada pelo canto do PIO, o passarinho dos pais do meu compi de apartamento que está com a gente enquanto eles se recuperam de coronavírus num hospital em Barcelona.
(Por sinal, outro dia um amigo inglês pseudoespecialista em pássaros me esclareceu, ao ver uma foto do bichinho: “Suzánahh, é um verdilhão, não um pardal”. Ah, tá.)
No sábado (18), o governo espanhol confirmou: o Desconfinamento nacional vai começar a partir de 9 de maio, possivelmente com medidas particularizadas de acordo com estágio e perfil epidêmico de cada região.
Digo Desconfinamento com "D" maiúsculo porque o país já vem adotando medidas pontuais de relaxamento do lockdown desde semana passada, quando algumas empresas do setor produtivo retomaram suas atividades.
Além do mais, anunciou-se que antes do final de abril as crianças vão poder voltar às ruas —com cautela. As regras ainda não foram definidas, mas o plano inicial propõe contemplar os menores de 12 anos com uma escapada monitorada ao dia.
Quanto à pergunta que não quer calar (a dor, a dor), isto é, se a gente vai poder curtir o verão (traduzindo, em Linguagem Real, uma dúvida que surgiu sobre a perspectiva de desconfinamento na alta temporada turística/de férias que se avizinha), o premiê Pedro Sánchez exercitou em seu discurso de sábado sua alta capacidade evasiva-lacônica-prudente com um: "oxalá".
"Conseguimos o mais difícil, graças à responsabilidade social", disse. "Mas esses êxitos são ainda insuficientes e frágeis, e não podemos botá-los em risco com decisões precipitadas."
Neste exato momento da crise, ainda que o ritmo (oficial) de mortes e contágios esteja se estabilizando, a Espanha ainda não cumpre com nenhum dos seis requisitos para o desconfinamento listados pela Organização Mundial da Saúde.
Entre esses está, por exemplo, garantir que a transmissão do vírus esteja controlada. Outro, que é uma questão crucial aqui, diante da ainda deficiente disponibilidade de testes, é a capacidade de identificação rápida dos contágios.
Entre as discussões administrativas internas, a questão da educação e da resolução dos finais de curso tem dividido as comunidades autônomas.
Em linhas gerais, os governos locais vinculados ao Partido Popular (PP, principal partido de oposição) não topam um acordo coletivo. O País Basco quer elaborar um plano próprio.
E cá do Llobregat e Besòs (os rios Pinheiros e Tietê de Barcelona), Quim Torra, presidente da Catalunha, outra comunidade tradicionalmente autodeterminista, reforçou mais uma vez sua intenção de atuar de maneira independente do governo central.
Ele é da opinião de que este está demasiado sussa na montanha-russa com a flexibilização do estado de alarme, e já avisou: "Estamos em alerta máxima; não nos relaxemos".
Aqui em Barcelona chove, muito. E amanhã vai ter sessão de kickboxing na Sala 1.
“Músicas para Quarentenas” podem ser escutadas aqui.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters