Dia #47 – Quarta, 29 de abril. Cena: Escutando no repeat “Mistério do Planeta”, dos Novos Baianos.
"Estamos no ano 50 antes de Cristo. Toda a Gália está ocupada pelos romanos... Toda? Não! Uma aldeia povoada por irredutíveis gauleses resiste ainda e sempre ao invasor..."
Lembrei das historinhas do Asterix da minha infância (obrigada, pai, por emprestar sua coleção) quando vi uma notícia solta desses dias: um homem foi preso na localidade de Lugones, em Astúrias, fazendo cooper pelado durante o confinamento.
Lugones é um pitoresco pueblo de pouco mais de 13 mil habitantes. O nome, de origem celta, me remeteu aos acampamentos romanos dos comics de Goscinny e Uderzo.
De fato, existem vestígios de presença romana por ali. O lugonense nudista assim explicou à polícia sua atitude: "Estou bem louco de coca e saí pra correr!".
O governo espanhol anunciou nesta terça (28) um desconfinamento nacional em quatro etapas, a ser realizado de forma gradual e "assimétrica" ao longo de até oito semanas, segundo o perfil epidemiológico de cada região.
Menos de 24 horas depois, chovem críticas ao projeto.
Teodoro García Egea, secretário-geral do principal partido de oposição, o PP (Partido Popular), comentou que "não há plano", mas uma série de "imprecisões".
Representantes da oposição se queixaram de terem sido excluídos das decisões novamente, como já havia acontecido com a prorrogação do estado de alarme.
Ao contrário de outros países europeus, a Espanha optou por uma desescalada modular, sem datas fixas.
A ideia é que comunidades autônomas menos atingidas pelo vírus, como as ilhas Canárias, possam adiantar o processo de desconfinamento.
Algumas administrações locais de orientação nacionalista criticaram o que consideram uma tentativa de "recentralização" do governo com o novo plano.
Uma das vozes mais críticas é a Catalunha. Aqui, segunda região do país em número de mortos e contágios, mais de mil leitos de UTI ainda se encontram ocupados por pacientes de coronavírus e outras enfermidades —o dobro de todos os leitos disponíveis antes da pandemia.
A comunidade já soma quase 50 mil casos confirmados e 5.000 mortos.
O setor de restaurantes e bares de Barcelona, um dos mais afetados pela crise e pelas novas medidas, anunciou que 72% dos estabelecimentos com mesas ao ar livre da cidade dispõem de 16 cadeiras ou menos.
Segundo o plano de desescalada, isso significaria reabrir os negócios com capacidade máxima de cinco pessoas.
"Que estabelecimento pode funcionar com uma lotação máxima de 4,8 pessoas? (...) É hora de ampliar as terraças", cobrou Roger Pallarols, representante do Gremi de Restauradors de Barcelona.
O que eu sei é que hoje está especialmente difícil escrever. #ProntoFalei. A neovida encaixotada é assim, tem dias em que a mente se turva, os troços de mil informações/desinformações/opiniões/críticas/notícias-de-corredores-nudistas-cheirados-presos se sobrepõem e formam uma maçaroca sem-cara de Cousas Fugazes.
Tô com vontade de ver aquele filme "Feitiço do Tempo" aka Dia da Marmota de novo, só pra ninar meus ânimos vendo o Bill Murray falar: “O que você faria se estivesse preso em um lugar, e cada dia fosse exatamente igual, e nada que você fizesse importasse?”.
“Músicas para Quarentenas” podem ser escutadas aqui.
DIÁRIO DE CONFINAMENTO
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Dia 1: 'Não estamos de férias, mas em estado de alarme'
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Dia 2: 'Teste, só para pacientes internados'
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Dia 3: 'A vida vista de cima'
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Dia 4: 'Panelaço contra o rei'
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Dia 5: 'O perigo mora em casa'
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Dia 6: 'Solidariedade em tempos de vírus'
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Dia 7: 'O lado utópico da crise'
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Dia 8: 'O canto dos pássaros urbanos'
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Dia 9: 'Os de baixo ficam sem banquete'
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Dia 10: 'Essa desproteção vai cobrar fatura'
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Dia 11: 'Se não estamos no pico, estamos muito próximos'
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Dia 12: 'Tensão cresce em diferentes setores'
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Dia 13: 'Único tratamento agora é a disciplina'
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Dia 14: 'Os domingos são como segundas, e as segundas como domingos'
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Dia 15: 'Cada incursão ao exterior é uma operação de guerra'
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Dia 16: 'Começam a proliferar os vigilantes da lei entre os cidadãos'
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Dia 17: 'Tem chovido muito nestes dias em Barcelona'
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Dia 18: 'Tem chovido muito nestes dias em Barcelona'
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Dia 19: 'A vida vai registrando uma sucessão de recordes negativos'
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Dia 20: 'Come chocolates, pequena'
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Dia 21: 'Com avanço da crise, aumentam a tensão e as divergências'
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Dia 22: 'Separados por confinamento, casais marcam encontro no supermercado'
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Dia 23: 'Independentemente da duração, todos sabemos o que é uma quarentena'
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Dia 24: 'A manhã começou com um tutorial japonês maravilhoso sobre tofu'
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Dia 25: 'Espanha testará 30 mil famílias'
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Dia 26: 'Hoje deu vontade de ver o mar'
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Dia 27: 'Perspectiva é de que quarentena tenha prorrogação-da-prorrogação'
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Dia 28: 'E eu, sou não-essencial?'
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Dia 29: 'Qual é a importância das pequenas coisas?'
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Dia 30: 'Após um mês, os espanhóis (alguns) voltam às ruas'
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Dia 31: 'Não há ninguém para colher cerejas'
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Dia 32: 'Queremos pedir que você busque outra casa'
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Dia 33: 'Sobre política e pardais'
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Dia 34: 'As mandíbulas de Salvador Dalí'
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Dia 35: 'Escola, só no ano que vem'
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Dia 36: 'A Nova Normalidade'
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Dia 37: 'A dor é temporária; o orgulho é para sempre'
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Dia 38: 'O início da reconstrução'
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Dia 39: 'O elaborado ritual do passeio em família'
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Dia 40: 'A cidade mascarada'
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Dia 41: 'Um Dia dos Namorados diferente'
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Dia 42: 'Sair, sim, mas com separação de brinquedos'
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Dia 43: 'Tínhamos que tomar decisões duras e rápidas'
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Dia 44: 'A cidade das crianças'
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Dia 45: 'Isso não acabou'
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Dia 46: 'Quatro etapas para o verão'
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Dia 47: 'As piedras no caminho'
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Dia 48: 'O jeito luso'
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Dia 49: 'As novas regras do rolê'
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Dia 50: 'Sobre crânios e crises'
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Dia 51: 'Um dia inesquecível'
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Dia 52: 'Começa o descofinamento'
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Dia 53: 'O comandante e as ovelhas'
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Dia 54: 'Confinados por um fio'
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Dia 55: 'O calor e o jogo do contente'
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Dia 56: 'A Barcelona de mil caras'
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Dia 57: 'Redescobrindo o amor'
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Dia 58: 'Espanha avança pela metade'
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Dia 59: 'O voo da discórdia'
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Dia 60: 'O ano que não houve'
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Dia 61: 'Passando de fase'
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Dia 62: 'Sobre manifestações e cabeleireiros'
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Dia 63: 'San Isidro com flores e máscaras'
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Dia 64: 'Dá medo, medinho, medaço'
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Dia 65: 'Máscaras e luvas jogadas na rua'
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Dia 66: 'Quentinhas de luxo'
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Dia 67: 'Brasil para espanhol ver'
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Dia 68: 'Parecia Copacabana'
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Dia 69: 'O passinho do lagarto'
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Dia 70: 'As pessoas meio que gritam entre si'
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Dia 71: 'O augúrio chinês'
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Dia 72: 'Estamos enlouquecendo?'
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Dia 73: 'Nazaré confusa e fila pra cerveja'
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Dia 74: 'Enquanto julho não vem'
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Dia 75: 'Contemplemos, meditemos, recordemos'
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Dia 76: 'A fábula do terrorista e da marquesa'
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Dia 77: 'O informe da discórdia'
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Dia 78: 'Lições da cólera em tempos de coronavírus'
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Dia 79: 'Nos deram um pouco de liberdade e agimos como se o vírus não existisse'
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Dia 80: 'Sem pressa, mas sem pausa'
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Dia 81: 'Botellones, a nova discoteca pós-Covid'
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Dia 82: 'Pandemia, crise e racismo'
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Dia 83: 'Sair da UTI para ver o mar'
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Dia 84: 'A senhora deu positivo e deve se isolar imediatamente'
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Dia 85: 'A verdade é que é uma incerteza para todos'
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Dia 86: 'A cultura de bar na Espanha é expressiva'
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Dia 87: 'Todo cuidado é pouco e, inclusive, pode não ser suficiente'
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Dia 88: 'O vírus segue sendo uma ameaça'
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Dia 89: 'O fogo que nunca se apaga'
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Dia 90: 'Uma bolha, uma família'
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Dia 91: 'Músicos do mundinho, uni-vos'
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Dia 92: 'Como um clube de jazz dos anos 1930'
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Dia 93: 'Dinheiro pode estar com os dias contados no pós-pandemia espanhol'
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Dia 94: 'Uma vida de mil e uma regrinhas'
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Dia 95: 'Cada dia, ao chegar em casa, me isolava da minha família'
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Dia 96: 'Abraços, mesmo que de plástico'
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Dia 97: 'Em casa com o agressor'
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Dia 98: 'Já vivemos como podemos, e não há mais'
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Dia 99: 'O ídolo pop e as amêndoas'
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