Dia #63 – Sexta, 15 de maio. Cena: as rosquinhas típicas de São Isidro datam do século 18 e eram de dois tipos, chamados “tonta” e “lista” (espertinha).
Hoje é dia de São Isidro, padroeiro de Madri.
As Fiestas de San Isidro são uma das celebrações espanholistas mais queridas dos madrilenhos —e uma das mais antigas, sendo os primeiros registros anteriores ao século 16.
É tradição subir ao bairro homônimo, beber água da fonte ao lado da capela em homenagem ao santo e fazer piquenique na colina chamada Pradera, entre muita dança, comida e roupas típicas. O costume foi imortalizado em inúmeras obras de arte, como "La Pradera de San Isidro" (1788), de Goya.
Neste ano, não deu pra celebrar "a lo grande", como se diz por aqui. Mas os resistentes saíram de casa pra manter um pouquinho da tradição. Idosos, crianças e até imigrantes deram o ar da graça na Pradera vestindo seus trajes de "chulapos" —homens de colete cinza, boina e cravo na lapela, mulheres com vestidos longos, xale e flor no cabelo. Elegantes, com uma novidade: máscaras. Tudo sob a atenta vigilância de policiais.
Madri ainda se encontra na primeira de quatro etapas de desconfinamento. Além das medidas de distanciamento social, a atividade econômica nessa etapa é restrita e as reuniões sociais estão proibidas.
Nesta sexta, o governo central anuncia quem avança no processo de desescalada no país a partir da segunda-feira que vem. A decisão é tomada pelo conselho de ministros após extensa análise dos dados epidemiológicos e sociais enviados por todas as comunidades autônomas.
O clima com Madri está cada vez mais tenso. Há cinco dias, manifestantes tomam as ruas todo fim de tarde para protestar contra a gestão da crise e pedir a demissão do premiê Pedro Sánchez e equipe.
Nesta quinta (14), porém, eles se depararam com mais efetivos policiais nas ruas. O objetivo: garantir o cumprimento das normas de distanciamento social.
A governadora de Madri, Isabel Díaz Ayuso, afiliada ao principal partido da oposição no Congresso, o Partido Popular (PP), apóia publicamente os protestos. Em sessão no plenário nesta quinta, declarou inclusive que o que está acontecendo "vai ser uma piada" quando as pessoas de fato sairem em massa às ruas.
A celebração 2020 de San Isidro em Madri teve casais de idosos de máscara e outfit de “chulapos” bailando o “chotis” a distância, sem se tocar; muitas flores, não sei se de papel crepom ou verdadeiras, porque onde cazzo numa urbe em plena pandemia se encontram tantas abundantes flores verdadeiras?; varandas decoradas, mulheres vestidas de flamenca fazendo olé olé, “lives” da população celebrando em casa, preparando as rosquinhas glaceadas típicas e fazendo piquenique na sala.
Na tevê, um “chulapito” mirim me chama a atenção. De coletinho cinza e boina, parecendo um personagem de outros tempos, risca o asfalto de uma rua de San Isidro com seu patinete, enquanto é observado de longe por um punhado de policiais.
“Músicas para Quarentenas” podem ser escutadas aqui.
DIÁRIO DE CONFINAMENTO
-
Dia 1: 'Não estamos de férias, mas em estado de alarme'
-
Dia 2: 'Teste, só para pacientes internados'
-
Dia 3: 'A vida vista de cima'
-
Dia 4: 'Panelaço contra o rei'
-
Dia 5: 'O perigo mora em casa'
-
Dia 6: 'Solidariedade em tempos de vírus'
-
Dia 7: 'O lado utópico da crise'
-
Dia 8: 'O canto dos pássaros urbanos'
-
Dia 9: 'Os de baixo ficam sem banquete'
-
Dia 10: 'Essa desproteção vai cobrar fatura'
-
Dia 11: 'Se não estamos no pico, estamos muito próximos'
-
Dia 12: 'Tensão cresce em diferentes setores'
-
Dia 13: 'Único tratamento agora é a disciplina'
-
Dia 14: 'Os domingos são como segundas, e as segundas como domingos'
-
Dia 15: 'Cada incursão ao exterior é uma operação de guerra'
-
Dia 16: 'Começam a proliferar os vigilantes da lei entre os cidadãos'
-
Dia 17: 'Tem chovido muito nestes dias em Barcelona'
-
Dia 18: 'Tem chovido muito nestes dias em Barcelona'
-
Dia 19: 'A vida vai registrando uma sucessão de recordes negativos'
-
Dia 20: 'Come chocolates, pequena'
-
Dia 21: 'Com avanço da crise, aumentam a tensão e as divergências'
-
Dia 22: 'Separados por confinamento, casais marcam encontro no supermercado'
-
Dia 23: 'Independentemente da duração, todos sabemos o que é uma quarentena'
-
Dia 24: 'A manhã começou com um tutorial japonês maravilhoso sobre tofu'
-
Dia 25: 'Espanha testará 30 mil famílias'
-
Dia 26: 'Hoje deu vontade de ver o mar'
-
Dia 27: 'Perspectiva é de que quarentena tenha prorrogação-da-prorrogação'
-
Dia 28: 'E eu, sou não-essencial?'
-
Dia 29: 'Qual é a importância das pequenas coisas?'
-
Dia 30: 'Após um mês, os espanhóis (alguns) voltam às ruas'
-
Dia 31: 'Não há ninguém para colher cerejas'
-
Dia 32: 'Queremos pedir que você busque outra casa'
-
Dia 33: 'Sobre política e pardais'
-
Dia 34: 'As mandíbulas de Salvador Dalí'
-
Dia 35: 'Escola, só no ano que vem'
-
Dia 36: 'A Nova Normalidade'
-
Dia 37: 'A dor é temporária; o orgulho é para sempre'
-
Dia 38: 'O início da reconstrução'
-
Dia 39: 'O elaborado ritual do passeio em família'
-
Dia 40: 'A cidade mascarada'
-
Dia 41: 'Um Dia dos Namorados diferente'
-
Dia 42: 'Sair, sim, mas com separação de brinquedos'
-
Dia 43: 'Tínhamos que tomar decisões duras e rápidas'
-
Dia 44: 'A cidade das crianças'
-
Dia 45: 'Isso não acabou'
-
Dia 46: 'Quatro etapas para o verão'
-
Dia 47: 'As piedras no caminho'
-
Dia 48: 'O jeito luso'
-
Dia 49: 'As novas regras do rolê'
-
Dia 50: 'Sobre crânios e crises'
-
Dia 51: 'Um dia inesquecível'
-
Dia 52: 'Começa o descofinamento'
-
Dia 53: 'O comandante e as ovelhas'
-
Dia 54: 'Confinados por um fio'
-
Dia 55: 'O calor e o jogo do contente'
-
Dia 56: 'A Barcelona de mil caras'
-
Dia 57: 'Redescobrindo o amor'
-
Dia 58: 'Espanha avança pela metade'
-
Dia 59: 'O voo da discórdia'
-
Dia 60: 'O ano que não houve'
-
Dia 61: 'Passando de fase'
-
Dia 62: 'Sobre manifestações e cabeleireiros'
-
Dia 63: 'San Isidro com flores e máscaras'
-
Dia 64: 'Dá medo, medinho, medaço'
-
Dia 65: 'Máscaras e luvas jogadas na rua'
-
Dia 66: 'Quentinhas de luxo'
-
Dia 67: 'Brasil para espanhol ver'
-
Dia 68: 'Parecia Copacabana'
-
Dia 69: 'O passinho do lagarto'
-
Dia 70: 'As pessoas meio que gritam entre si'
-
Dia 71: 'O augúrio chinês'
-
Dia 72: 'Estamos enlouquecendo?'
-
Dia 73: 'Nazaré confusa e fila pra cerveja'
-
Dia 74: 'Enquanto julho não vem'
-
Dia 75: 'Contemplemos, meditemos, recordemos'
-
Dia 76: 'A fábula do terrorista e da marquesa'
-
Dia 77: 'O informe da discórdia'
-
Dia 78: 'Lições da cólera em tempos de coronavírus'
-
Dia 79: 'Nos deram um pouco de liberdade e agimos como se o vírus não existisse'
-
Dia 80: 'Sem pressa, mas sem pausa'
-
Dia 81: 'Botellones, a nova discoteca pós-Covid'
-
Dia 82: 'Pandemia, crise e racismo'
-
Dia 83: 'Sair da UTI para ver o mar'
-
Dia 84: 'A senhora deu positivo e deve se isolar imediatamente'
-
Dia 85: 'A verdade é que é uma incerteza para todos'
-
Dia 86: 'A cultura de bar na Espanha é expressiva'
-
Dia 87: 'Todo cuidado é pouco e, inclusive, pode não ser suficiente'
-
Dia 88: 'O vírus segue sendo uma ameaça'
-
Dia 89: 'O fogo que nunca se apaga'
-
Dia 90: 'Uma bolha, uma família'
-
Dia 91: 'Músicos do mundinho, uni-vos'
-
Dia 92: 'Como um clube de jazz dos anos 1930'
-
Dia 93: 'Dinheiro pode estar com os dias contados no pós-pandemia espanhol'
-
Dia 94: 'Uma vida de mil e uma regrinhas'
-
Dia 95: 'Cada dia, ao chegar em casa, me isolava da minha família'
-
Dia 96: 'Abraços, mesmo que de plástico'
-
Dia 97: 'Em casa com o agressor'
-
Dia 98: 'Já vivemos como podemos, e não há mais'
-
Dia 99: 'O ídolo pop e as amêndoas'
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.